CECIERJ
1º ciclo do 3º bimestre da 2ª série
POESIA NO PARNASIANISMO
TEXTO GERADOR I
O primeiro texto gerador desse ciclo, As pombas, é de autoria de Raimundo
Correia. A obra desse poeta normalmente remete a temas como a natureza, a perfeição
formal dos objetos e a cultura clássica. Já sua poesia filosófica, de meditação, é marcada
pela desilusão e por um forte pessimismo. Ressalta-se a força lírica do autor,
principalmente quando canta a natureza, conforme se observa no poema As pombas. O
primeiro gerador é um soneto, no qual se evidencia não somente o tema da natureza, mas
também o culto à forma através do uso de vocábulos raros, de inversões frasais
(hipérbatos), de rimas ricas e de verbos decassílabos. A partir desse texto, serão
trabalhadas habilidades dos eixos leitura e uso da língua.
AS POMBAS
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
Raimundo Correia
Glossário
Céleres: velozes.
Nortada: “vento frio e/ou áspero que
sopra do norte”.
Revoada: bando de aves que revoam.
Ruflar: agitar as asas para voar.
ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 1
Os poetas parnasianos tinham como um de seus preceitos básicos o culto da forma.
Por essa razão, cultivavam o soneto: composição poética de 14 versos distribuídos em dois
quartetos e dois tercetos, apresentando métrica – normalmente versos alexandrinos (12
sílabas poéticas) e decassílabos (10 sílabas poéticas) - e rima.
A - Sobre o poema “As pombas”, assinale a alternativa correta:
a) É um soneto de versos alexandrinos, com as rimas ABBA (nos quartetos) e
CCD/EED (nos tercetos).
b) É um soneto de versos decassílabos, com as rimas ABBA (nos quartetos) e
CCD/EED (nos tercetos).
c) É um soneto de versos alexandrinos, com as rimas ABBA (nos quartetos) e CCD
(nos tercetos).
d) É um soneto de versos decassílabos, com as rimas ABBA (nos quartetos) e CCD
(nos tercetos).
B - Muitos sonetos parnasianos cultivaram a rima rica, ou seja, quando a rima
acontece entre palavras de classes gramaticais diferentes. No poema “As pombas”,
temos um exemplo de rima rica na seguinte alternativa:
a) soltam/voltam
b) abotoam/voam
c) pombais/mais
d) nortada/revoada
Reconhecer a estrutura do soneto e os recursos prosódicos para diferenciá-lo das formas
poéticas não fixas.
Resposta comentada
O texto gerador I, o soneto “As pombas”, é um exemplo bastante ilustrativo do
culto à forma preconizado no parnasianismo. O soneto é uma forma fixa, ou seja, uma
estrutura rígida. Normalmente é formado por 14 versos distribuídos em 2 quartetos e 2
tercetos, mas também há sonetos formados por 2 quartetos e um dístico. É importante
ressaltar que a opção por uma forma fixa já denota certa preocupação com a estrutura
formal da poesia. Soma-se à rigidez da forma, a preocupação com as rimas.
A. Antes de iniciar a correção dessa questão, é necessário realizar a escansão dos versos
no quadro. A título de exemplo, apresenta-se a seguir, a escansão da primeira estrofe
do poema.
B.
Vai / se a/ pri / mei / ra / pom / pa / dês / per / ta / da
Vai/ -se ou/ tra / mais../.mais /ou/ tra...en/ fim / de/ ze/ nas.
De /pom / bas / vão-/ se / dos / pom/ bais/, a/ pe / nas
Rai/ a/ san/ güí/ nea e / fres/ ca a/ ma/ dru/ ga/ da.
Fazer a escansão é importante não apenas para que os alunos possam ser induzidos à
resposta correta, mas também para sanarem possíveis dúvidas relativas à divisão de
sílabas poéticas. A escansão dos versos de As pombas, que possuem 10 sílabas (é
considerada como última sílaba poética a sílaba tônica da última palavra do verso),
naturalmente faz com se elimine duas possibilidades de respostas, já que as opções “a”
e “c” afirmam serem alexandrinos (12 sílabas) os versos do poema. Entretanto, restam
duas alternativas a serem analisadas pelo aluno: “b” e “d” que afirmam serem
decassílabos os versos. Após a escansão, é importante montar no quadro o esquema da
rima do poema. Para isso, lembre aos alunos de que a cada rima diferente que se
apresenta no poema se atribui uma letra (A, B, C, D, E etc.).
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada... (A)
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas (B)
De pombas vão-se dos pombais, apenas (B)
Raia sanguínea e fresca a madrugada...(A)
E à tarde, quando a rígida nortada (A)
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,(B)
Ruflando as asas, sacudindo as penas,(B)
Voltam todas em bando e em revoada...(A)
Também dos corações onde abotoam,(C)
Os sonhos, um por um, céleres voam,(C)
Como voam as pombas dos pombais;(D)
No azul da adolescência as asas soltam,(E)
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, (E)
E eles aos corações não voltam mais... (D)
Com relação ao esquema de rima, apenas a análise dos quartetos não é suficiente
para que se responda a questão. O aluno precisará observar também os tercetos para
concluir que a alternativa correta é a letra “b”. Caso o aluno marque a opção “d” como
correta, ele possivelmente não terá atentado para o fato de que a rima do primeiro
terceto é –am (abotoam/voam), enquanto a do segundo terceto é –tam
(soltam/voltam.). Ainda que a turma não manifeste dúvidas a respeito dessa
diferenciação, vale a pena ressaltá-la.
C. Inicialmente, é importante definir as rimas ricas e pobres por oposição. Enquanto as
primeiras são formadas por palavras de categorias gramaticais diferentes, as rimas
pobres são constituídas por palavras de mesma classe gramatical. A opção “a”
provavelmente não causará dúvidas nos alunos, tendo em vista que as duas palavras
são verbos bastante usuais em nossa língua. O mesmo pode ser dito com relação à
opção “b”, que também possui dois verbos comumente utilizados. A opção que pode
provocar dúvidas no aluno é a “d”, por conter vocábulos que não fazem do
vocabulário cotidiano. Por essa razão, é importante sugerir a busca dessas palavras no
dicionário quando da leitura do poema. Outra possibilidade seria simplesmente colocar
os significados no quadro, para que os alunos percebam mais facilmente tratar-se de
dois substantivos. Com isso, o aluno eliminará a opção “d”. Na indicação da resposta
correta (letra “c”), é importante ressaltar não somente que pertencem a classes de
palavras diferentes (substantivo/advérbio), mas também o fato de essa ser uma
construção típica nos poemas parnasianos. Aproveite para lembrar que os poetas
parnasianos primavam não só pelas rimas, como ainda pelo emprego de vocábulos
raros que normalmente não são usados na composição das mesmas.
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 2
“As pombas” é um soneto terminado com “chave de ouro”, isto é, um verso final
bem escrito, que procura condensar uma ideia e arrematar o poema com um belo efeito. A
figura de linguagem que contribuiu para a construção do efeito “chave de ouro” no referido
poema foi:
a) antítese
b) elipse
c) anáfora
d) hipérbato
Identificar os efeitos de sentido produzidos pelo emprego de figuras de sintaxe como
elipse, anáfora, hipérbato.
Resposta comentada
Os poetas parnasianos cultivaram o soneto de tradição clássica, composição poética
de quatorze versos - articulada obrigatoriamente em dois quartetos e dois tercetos - e que
se encerra com uma "chave de ouro", ou seja, uma espécie de síntese do poema, que se
manifesta no último verso. Um dos poetas que mais cultivou essa prática foi Olavo Bilac,
conhecido como o “ourives da linguagem”. É importante ressaltar, na correção, que as
figuras de linguagem podem estar presentes em qualquer estrofe do poema, mas também
que, quando empregadas no último verso, podem contribuir para o desfecho triunfal do
mesmo.
Antes de iniciar correção, é interessante relembrar junto aos alunos em que consiste
cada uma das figuras que aparecem nas alternativas da questão. Pode ser reforçada a ideia
de que a antítese consiste na aproximação de palavras e ideias antônimas (opostas). Vale
lembrar que este recurso expressivo teve extraordinário desenvolvimento no Barroco. Já a
anáfora, consiste na repetição de uma ou mais palavras no princípio dos versos ou no
início de cada um dos segmentos da frase. Ocorre anáfora, por exemplo, nos dois primeiros
versos do poema (“Vai-se” / “Vai-se”). No que diz respeito à figura elipse, que não
apresenta ocorrência no poema “As pombas”, dizemos que consiste na omissão de termos
facilmente subentendidos por meio do contexto. Por último, o professor pode abordar o
hipérbato (opção B), resposta correta da questão.
O hipérbato é uma das figuras de linguagem mais cultivadas pelos poetas
parnasianos. Consiste na apresentação indireta dos elementos composicionais da frase
(sujeito, verbo, complementos), visando à pomposidade, ao enobrecimento da linguagem
propriamente dita. Tendo esse breve aparato teórico, os alunos serão levados a perceber
que a única figura de linguagem presente no último terceto é o hipérbato. Após a indicação
da resposta correta, cabe a explicação de que a ordem direta dos últimos versos seria “mas
as pombas voltam aos pombais/ e eles não voltam mais aos corações”.
TEXTO GERADOR II
O segundo texto gerador do ciclo intitula-se A um poeta. Seu autor, Olavo Bilac, é
considerado o “ourives da linguagem” devido a sua preocupação com a forma poética.
Bilac buscava escrever sonetos com versos alexandrinos e, como os outros poetas da
tríade, colocou-se à margem dos grandes acontecimentos políticos e sociais do seu tempo.A um poeta, soneto de verbos decassílabos, tematiza o ofício de ser poeta e clarifica o ideal
da arte pela arte, um dos principais lemas da estética parnasiana. A partir desse texto,
serão trabalhadas habilidades dos eixos leitura e uso da língua.
A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Olavo Bilac
Glossário
Artifício: recurso engenhoso
Beneditino: aquele que segue as regras
de São Bento, fundador do sistema
monástico cristão. Monge da Ordem de
São Bento.
Claustro: ambiente de isolamento
Estéril: improdutivo.
Suplício: a aflição.
Turbilhão: movimento
ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 3
Leia o fragmento a seguir:
“A busca da objetividade temática e o culto da forma são as mais importantes
características do Parnasianismo. Os poetas parnasianos opunham-se ao
individualismo, ao sentimentalismo e ao subjetivismo românticos, e procuraram voltar
sua poesia para temas que consideravam mais universais, como a natureza, a história,
o amor, os objetos inanimados, além da própria poesia. Essa poética da
impessoalidade era reforçada pelo gosto da descrição e do rigor formal. O ideal da
"arte pela arte" resultou em acentuada preocupação com a versificação e a
metrificação, pois se acreditava que a Beleza residia também na forma.”
(http://www.itaucultural.org.br)
Em “A um poeta”, Olavo Bilac aproxima o ofício de ser poeta ao ofício de um
escultor: Ambos buscam moldar perfeitamente a forma de seus objetos estéticos. Tendo
por base a leitura do poema de Olavo Bilac e do fragmento acima, responda:
a) Explique por que o último verso da 1ª estrofe é representativo do ideal da
“arte pela arte”.
b) Destaque um verso no qual o eu - lírico exteriorize a ideia de que o esforço
empreendido na busca pela forma perfeita não pode transparecer no
resultado final da poesia.
Reconhecer o ideal estético da arte pela arte em contraposição à análise objetiva da
realidade.
Resposta comentada
O texto gerador III é um poema que tematiza o ofício de ser poeta. “A um poeta”
aborda o modo de fazer poesia proposto pelos parnasianos. O soneto de Bilac é bastante
representativo do ideal “da arte pela arte”, segundo o qual a arte não tem nenhum sentido
utilitário e nenhum compromisso com a humanidade, a não ser com a beleza. Apesar de
contemporâneo ao Realismo/Naturalismo, a estética parnasiana foi muito diferente de
ambas. Isso porque, enquanto esses dois movimentos da prosa buscavam analisar e
compreender a realidade social e humana, para o parnasianismo, o objetivo maior da arte
não era tratar dos problemas sociais, mas sim alcançar a perfeição da construção poética.
A. Na resposta dessa questão, espera-se que o aluno demonstre ter percebido que o último
verso da primeira estrofe traduz a ideia de que, para alcançar a forma perfeita, faz-se
necessário o poeta trabalhar bem com o objeto da poesia, ou seja, a palavra. É
importante que a resposta do aluno reconheça o valor que os poetas parnasianos
atribuíam à forma do poema. O professor pode mostrar que a ideia de trabalhar
arduamente para moldar a forma da poesia (“Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua”)
além de estar presente nesse verso, estende-se na segunda quadra. Seria interessante,
após a correção dessa questão, levar ao conhecimento dos alunos outro poema de Bilac
que aborda o ofício de ser poeta, “Profissão de fé”.
Veja fragmentos:
"Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
com que ele, em ouro, alto-relevo
Faz de uma flor.
(...)
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e,enfim,
no verso de ouro engasta a rima,
como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
do ourives, saia da oficina
sem um defeito.”
Em “Profissão de fé”, o eu-lírico afirma invejar um ourives, ou seja, alguém que se
dedica a um trabalho paciente, minucioso e delicado. Acentua, ainda, a importância da
escolha das palavras precisas, do cuidado com as frases e realça o "polimento" dos versos,
para que o poema se torne uma espécie de objeto precioso e belo, semelhante a uma joia.
B. É importante ressaltar junto aos alunos que o eu-lírico adverte que o resultado final da
poesia deve ocultar todo esforço que o poeta empregou na construção dos versos. O
ato de criação da poesia, em A um poeta, é comparado a um extremo sofrimento. Tal
sofrimento, contudo, jamais deve transparecer no resultado final. O que o aluno
precisa depreender é que a forma perfeita alcançada com bastante esforço pelo poeta
deve parecer natural, ou seja, as dificuldades de sua construção não podem ser vistas.
Como possibilidades de resposta há dois pares de versos: “Mas que na forma se
disfarce o emprego / Do esforço; e trama viva se construa e “Não se mostre na
fábrica o suplicio / Do mestre. E, natural, o efeito agrade”.
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 4
No primeiro quarteto do soneto “A um poeta”, de Olavo Bilac, o eu-lírico procura
construir uma imagem de sacrifício para a produção de um poema perfeito. Para isso, lança
mão, no último verso desse quarteto, de duas figuras de linguagem: a gradação ou clímax e
a metonímia. Explique como essas figuras de linguagem ajudam a construir essa imagem
que sugere o qual árduo é o trabalho do poeta.
Habilidade:
Reconhecer o emprego de figuras de linguagem na construção de imagens sugestivas.
Resposta Comentada:
É importante destacar para o aluno que o poeta parnasiano primava pela perfeição da
forma. Alcançá-la não era algo fácil. A gradação ou clímax é o recurso utilizado para
demonstrar isso. No poema apresentado, o eu-lírico pretende demonstrar a dedicação e
sofrimento por que passa para atingir seu objetivo.
Consideremos o último verso do primeiro quarteto: “Trabalha e teima, e lima, e
sofre, e sua!”. Peça para o aluno avaliar cada um dos verbos que compõem esse verso e
refletir como ele se sentiria se estivesse em um trabalho em que tivesse que realizar as
ações por eles propostas. É bem possível que o aluno demonstre a percepção de que
terminaria exausto. Leve-o a perceber que “trabalhar” exige esforço do indivíduo, mas que
“teimar” é no mínimo trabalhar em dobro, pois implica refazer o trabalho. Após refazer o
trabalho, ele “lima”. Limar, segundo o dicionário Aurélio é “desgastar, raspar ou polir com
lima”. Lima é, segundo o mesmo dicionário, “Ferramenta manual, de aço, cuja superfície é
lavrada de estrias muito próximas entre si, e utilizada para polir, ou desbastar ou raspar
metais ou outros objetos duros”. Sendo assim, após trabalhar, refazer o trabalho, o poeta
compara seu trabalho ao de quem usa uma ferramenta manual para desgastar algo duro.
Desta forma, o trabalho parece mais difícil e árduo que a própria repetição. O aluno
perceberá, então, que o trabalho do poeta exige um esforço crescente, e que isso é
percebido na forma como vai substituindo o verbo anterior por outro que indica um maior
grau de dificuldade.
O verso em análise termina com os verbos sofrer e suar, que funcionam, ao mesmo
tempo como níveis finais de dificuldade, mas também constituem uma metonímia, visto
que são consequência das ações expressas pelos verbos anteriores. Neste caso, portanto, é
possível notar a figura da metonímia pela relação de causa e efeito. Trabalhar, teimar e
limar tiveram como consequência sofrer, que, por sua vez, resultou em suar. O sofrimento
e o suor são as expressões finais do empenho e da dedicação, impingida pelo árduo
trabalho de fazer versos.
Ao usar essas duas figuras de linguagem, Bilac constrói essa imagem de entrega total
do poeta a seu ofício, pagando o preço do sofrimento para a criação do belo.
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 5
Termos acessórios da oração são aqueles que, embora não integrem
necessariamente a estrutura básica da oração, contribuem por informarem características
ou circunstâncias relativas a um substantivo, pronome ou verbo. A partir disso, responda
aos itens a seguir:
A) O aposto é um dos termos acessórios da oração que tem por função explicar,
esclarecer, resumir ou comentar algo sobre um termo de natureza nominal. Em “A
um poeta”, destaque um aposto e diga o nome ao qual ele está relacionado.
B) A atividade de escrita do poeta é apresentada como um trabalho árduo, que requer
recolhimento e concentração. Para expressar isso, o poema recorreu a uma
abundância de adjuntos adverbiais, termos acessórios que podem indicar a
circunstância de um verbo ou intensificar seu sentido, bem como o de um adjetivo
ou de outro advérbio. Tais adjuntos caracterizam de forma marcante todo o
envolvimento requerido pelo ofício de escrever. Identifique-os, relacionando-os às
necessidades de recolhimento e concentração expressos no soneto
Identificar os termos acessórios da oração.
Resposta Comentada:
A) Antes da correção da questão, é importante relembrar que são denominados de
“acessórios” os termos secundários da oração, que não integram necessariamente a
estrutura básica da oração.
Os termos acessórios, apesar de prescindíveis, contribuem para o entendimento do
enunciado porque informam alguma característica ou circunstância dos substantivos,
pronomes ou verbos que os acompanham. Dividem-se em adjunto adnominal, adjunto
adverbial e aposto.
Para que o aluno identifique o aposto no poema, é necessário reforçar a ideia de que
se trata de um termo cuja função é explicar, esclarecer, identificar de modo mais exato ou
resumir um nome da oração ao qual ele se refere. Tendo por base essas informações, será
mais fácil o aluno identificar os termos com função de aposto que aparecem no poema. São
eles: “gêmea da verdade”, “arte pura”, “inimiga do artifício”. O termo ao qual tais apostos
se referem é o substantivo Beleza, presente no primeiro verso do segundo terceto.
B) Neste item, seria interessante trabalhar o vocabulário para que o aluno
compreendesse bem as necessidades de recolhimento e concentração mencionados na
questão. Como nossa questão centra-se no primeiro quarteto, trabalhe com os alunos os
sentidos dos verbos e nomes que ali aparecem. Isso facilitará o desenvolvimento da
questão. Assim, no primeiro verso, certifique-se de que o aluno entenda o sentido da
palavra estéril para que, desta forma, perceba que o barulho e o tumulto da rua impedem a
produtividade do poeta: o “turbilhão da rua” é estéril, não produz nada. Esse é o primeiro
adjunto adverbial que aparece no texto e que vai remeter à necessidade de recolhimento
para que a escrita se torne possível. A informação principal é que “Beneditino escreve!”.
O adjunto adverbial que, no texto, precede a oração, vai indicar uma circunstância de lugar
para o verbo escrever: “Longe do estéril turbilhão da rua”, marcando assim a referida
necessidade de recolhimento.
A necessidade de concentração está relacionada à de recolhimento, pois é através
deste afastamento da rua que será possível concentrar-se. Essa concentração toda se faz
necessária devido à dureza do trabalho de escrita, expresso nas orações do quarto verso do
poema: “Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!”. Esse árduo trabalho é realizado onde?
“No aconchego/Do claustro, na paciência e no sossego”. Nestes versos podemos perceber
como o poeta ressalta a circunstância de seu trabalho, que, apesar de árduo, é feito em um
lugar acolhedor. A passagem “na paciência e no sossego” não indica uma circunstância de
lugar, mas de modo. Trabalhar, teimar, limar, sofrer e suar são ações realizadas “na
paciência e no sossego”, ou seja, paciente e sossegadamente. Só com muita concentração é
possível fazer um trabalho cuja dificuldade e constância são expressas na seleção de verbos
que indicam um nível crescente de empenho, de modo tal que, por fim, sem ter como
indicar por outro termo a dureza do trabalho, simboliza-a com a consequência de seu
esforço: o suor. Podemos considerar que os versos “No aconchego/Do claustro, na
paciência e no sossego” reúnem as duas necessidades: a de recolhimento, que é reforçada
na caracterização do claustro, definido como aconchegante, e a de concentração, expressa
no modo como o trabalho constante é realizado com paciência e sossegadamente.
TEXTO GERADOR III
O poema seguinte é da autoria de Alberto de Oliveira, um dos grandes
representantes do Parnasianismo e que, juntamente com Raimundo Correia e Olavo Bilac,
integrou a famosa tríade parnasiana. Através desse poema, será possível aprofundar as
relações entre as características da estética e seu contexto social e histórico por meio de
atividade do eixo de leitura.
O ÍDOLO
Sobre um trono de mármore
sombrio,
Em templo escuro, há muito
abandonado,
Em seu grande silêncio, austero e
frio
Um ídolo de gesso está sentado.
E como à estranha mão, a paz
silente
Quebrando em torno às funerárias
urnas,
Ressoa um órgão compassadamente
Pelas amplas abóbadas soturnas.
Cai fora a noite - mar que se retrata
Em outro mar - dois pélagos azuis;
Num as ondas - alcíones de prata,
No outro os astros - alcíones de luz.
E de seu negro mármore no trono
O ídolo de gesso está sentado.
Assim um coração repousa em
sono...
Assim meu coração vive fechado.
Alberto de Oliveira
Glossário:
Alcíones: Estrela de terceira grandeza, a mais brilhante
das Plêiades.
Austero: severo.
Pélago: abismo marítimo; pego. 2. mar alto.
Silente: silencioso, calado, que não faz barulho.
Soturno: Assustador; amedrontador; apavorante;
terrível.
ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 6
O Parnasianismo é um estilo literário que tem uma preocupação extrema com a
forma dos versos, com a métrica e a rima, elementos que precisavam estar rigidamente organizados e impecavelmente belos. A atenção excessiva à beleza é decorrente de uma
época em que a sofisticação de inspiração francesa da Belle Époque repercute no meio
social da elite brasileira.
Alheio às questões da realidade, o Parnasianismo representou a tradução poética de
um período de euforia e de relativa tranquilidade social, durante o qual a forma se sobrepôs
às ideias, valendo ao estilo a acusação de “afetação pelo preciosismo da linguagem e da
forma, buriladas como preciosa ourivesaria e superficialidade pela recusa das questões
político-sociais de seu tempo” (BARROS, p. 22).
A partir disso, releia a 1ª estrofe do poema de Alberto de Oliveira, retire um verso
que comprove a afirmação de Barros e explique o porquê.
Habilidade trabalhada:
Estabelecer relações entre a estética parnasiana e os conceitos da Belle Époque e da Art
Nouveau.
Resposta Comentada:
Para iniciar o trabalho com essa questão, é importante recapitular com os alunos o
contexto sócio-cultural que marca o desenvolvimento do estilo do Parnasianismo, a Belle
Èpoque, bem como rever os preceitos artísticos que marcaram a Art Nouveau. Assim,
ficará mais fácil para a turma entender a influência da cultura e estilo de vida dos franceses
no Brasil da época e a assimilação dos temas e formas da Art Nouveau em diversas
manifestações, com a arquitetura e a literatura.
Como resposta à questão, o aluno pode escolher qualquer um dos quatro versos da
primeira estrofe e apresentar algumas dessas explicações: preocupação com as rimas, no
caso, alternadas e ricas; preocupação excessiva com a métrica, no caso, versos
decassíbalos; escolha de um objeto para adoração, tornando a poesia fria e distanciada da
realidade. É importante que o aluno observe essas características, por serem as principais
da estética parnasiana.
Os poemas de Alberto de Oliveira reproduzem a natureza e objetos decorativos.
Trata-se uma poesia de rimas exatas e métrica correta, mas fria, distanciada da realidade.
Uma poesia sobre coisas inanimadas, feita para agradar as elites que viviam a ilusão da
Belle Époque, a equivocada ideia de interminável desfrute da riqueza.
A estética parnasiana encontrava um lugar e público perfeitos para se desenvolver,
visto que a ilusão de inspiração francesa, com os seus componentes de progresso e
sofisticação, deveria ser a todo custo preservada. Segundo a síntese do crítico Alexei
Bueno, “o Parnasianismo perseverou, por assim dizer, como o braço poético oficial de uma
república positivista e laica, de uma Belle Époque cética e risonha, que se negava totalmente
a ver a realidade do país e do povo” (BUENO, 2007, p. 152).
O poeta parnasiano, isolando-se dos acontecimentos do mundo, passa então a
cultuar “uma religião estética segundo a qual a Beleza é o único valor a ser realizado”
(ECO, 2007, p. 350). No caso do poema “O Ídolo”, de Alberto de Oliveira, a principal
intenção é enaltecer a beleza existente na estátua sobre o mármore preto.
Outras formas de abordagem do contexto histórico e cultural do Parnasianismo são
comentadas na seção “Como ensinar” das Orientações Pedagógicas deste ciclo.
ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
QUESTÃO 7
Paráfrase “é a reafirmação, em palavras diferentes, do mesmo sentido de uma obra
escrita. Uma paráfrase pode ser uma afirmação geral da ideia de uma obra como
esclarecimento de uma passagem difícil. Em geral, ela se aproxima do original em
extensão” (SANT’ANNA, p. 17). Uma paráfrase da explicação de Sant’Anna seria algo do
tipo: parafrasear é dizer a mesma coisa com outras palavras.
Uma paráfrase pode ser a explicação da parte mais difícil de algum texto.
Normalmente, os textos das paráfrases têm um tamanho parecido com os textos originais.
Algumas paráfrases não trazem exatamente o mesmo sentido do texto original, mas
mantém a mesma estrutura sintática e semântica. Isso pode ser percebido nas paráfrases de
frases célebres, como esta, de Vinícius de Moraes:
Frase original “As feias que me perdoem, mas beleza é
fundamental”.
Paráfrase Os calvos que me perdoem, mas cabelo é fundamental.
Na paráfrase acima, observa-se que a estrutura sintática da frase original foi
mantida: uma oração com o verbo no subjuntivo, seguida por outra, adversativa,
introduzida pela conjunção “mas”. A estrutura semântica também é a mesma, visto que se
apresenta uma característica considerada como negativa e, contrapondo-se a ela através da
adversativa, destaca-se como imprescindível a característica contrária.
Com base nessas informações, elabore a paráfrase de um dos poemas parnasianos
estudados.
Produzir paráfrases a partir dos poemas estudados.
Comentário
Nesta questão, é fundamental lembrar o que é paráfrase e, sobretudo, ressaltar o
cuidado que os alunos devem ter para não construírem, de maneira equivocada, uma
paródia, Esta é um gênero que se distingue daquela pelo fato de, a partir de um texto,
elaborar outro em que desconstrói, ironiza, critica ou ridiculariza o que havia sido dito no
texto original. Para que os alunos percebam bem a diferença entre os dois tipos de
produção, uma sugestão seria apresentar um fragmento do poema “Os sapos”, de Manuel
Bandeira, que é uma paródia do poema “Profissão de Fé”, de Olavo Bilac, autor estudado
neste ciclo. Chame a atenção para o modo como Bandeira ironiza e critica, procurando
ridicularizar o culto à forma e o desejo de perfeição dos parnasianos. Ressalte que a
paródia, por seu caráter, não pretende reafirmar o que foi dito, como na paráfrase. Pelo
contrário. Na paródia, o que se pretende é justamente desqualificar, de modo jocoso, as
ideias apresentadas no texto original.
PARA NÃO CONFUNDIR PARÓDIA E PARÁFRASE
Texto base Paródia- Olavo Bilac
Profissão de fé
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
(...)
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito
Os sapos
Manuel Bandeira
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Como forma de exercitar e fixar que o objetivo da questão é a elaboração uma
paráfrase, também seria interessante, tomar uma estrofe do poema “Profissão de fé” e criar,
junto com os alunos uma paráfrase, preparando-os, assim, para a elaboração do exercício
solicitado.
Quando tiverem terminado, incentive-os a ler as produções para os colegas, e a
identificarem qual se manteve mais fiel às ideias originais, tendo utilizado mais termos
diferentes do texto base.
ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
QUESTÃO 8
Originalmente, o soneto (pequeno som), como o próprio nome sugere, era
composto para ser cantado. As características estruturais e prosódicas dessa composição
poética foram aproveitadas pela banda brasileira Kid Abelha, que musicou o poema
parnasiano “Via Láctea” (soneto XIII), de Olavo Bilac. Outro famoso caso de transposição
poema/música se deu com o poema As pombas, de Raimundo Correia, musicado por
Chiquinha Gonzaga, compositora e maestrina carioca nascida no final do século XIX. O
soneto de Bilac e a versão musicada pelo grupo Kid Abelha podem ser observados abaixo.
Via Láctea- Soneto XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso" Eu vou direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de encanto....
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um páleo aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em
pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem quando estão contigo?".
E eu vos direi "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
(Olavo Bilac)
Ouvir Estrelas
Direi ouvir estrelas
Certo perdestes o senso
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouvi- lás
Muita vez desperto
E abro as janelas,
Pálido de espanto
Enquanto conversamos
Cintila via láctea
Como um pálido aberto
E ao vir do sol,
Saudoso e em pranto
Inda as procuro pelo céu deserto
Que conversas com elas
O que te dizem
Quando estão contigo
Ah... Amai para entendê-las
Ah... Pois só que ama pode ouvir estrelas
(Kid Abelha)
Glossário
Cintila: Resplandece Tresloucado: louco, desvairado.
Páleo: termo que indica antigo, velho.
Agora é a sua vez!
Escolha um dos sonetos que compõem este Roteiro de Atividades para, em seguida,
musicá-lo.
Musicar poemas parnasianos
Resposta Comentada:
Embora não haja uma única possibilidade de resposta para a questão (tendo em vista
que cada aluno poderá escolher o texto gerador de seu interesse), espera-se que o aluno
transponha o poema para a música observando as rimas, a divisão em sílabas poéticas e a
ênfase em possíveis recursos sonoros presentes na poesia, como aliterações, assonâncias
etc. Talvez seja interessante trabalhar a questão em duplas ou trios, não apenas para
dinamizar a correção, como também para aproximar a produção dos alunos da de
compositores profissionais, que muitas vezes compõem em conjunto com outras pessoas.
A atividade aqui proposta guarda certa complexidade, mas é fundamental para estimular o
espírito criativo. A criatividade dos alunos é, sem dúvida, um importante ponto a ser
observado nessa questão.