PROFESSORA-
REGINA MELLO
REVISÃO PARA PROVA
2ª
serie 1º bimestre
Após a Independência do Brasil,
surge uma Literatura de caráter essencialmente nacional. Gonçalves Dias
(1823-1864) representa a primeira geração romântica, focada numa temática de
valorização dos índios como heróis e da exaltação da terra brasileira. Um exemplo
disso é o poema “O Canto do Guerreiro”, que reflete linguagem usada na época e
o esteriótipo indígena.
O CANTO DO GUERREIRO
I
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
- Ouvi-me, Guerreiros.
- Ouvi meu cantar.
II
Valente na guerra
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me;
- Quem há, como eu sou?
III
Quem guia nos ares
A frecha imprumada,
Ferindo uma presa,
Com tanta certeza,
Na altura arrojada
Onde eu a mandar?
- Guerreiros, ouvi-me,
- Ouvi meu cantar.
IV
Quem tantos imigos
Em guerras preou?
Quem canta seus feitos
Com mais energia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me:
- Quem há, como eu sou?
V
Na caça ou na lide,
Quem há que me afronte?!
A onça raivosa
Meus passos conhece,
O imigo estremece,
E a ave medrosa
Se esconde no céu.
- Quem há mais valente,
- Mais destro do que eu?
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VI
Se as matas estrujo
Co os sons do Boré,
Mil arcos se encurvam,
Mil setas lá voam,
Mil gritos reboam,
Mil homens de pé
Eis surgem, respondem
Aos sons do Boré!
- Quem é mais valente,
- Mais forte quem é?
VII
Lá vão pelas matas;
Não fazem ruído:
O vento gemendo
E as malas tremendo
E o triste carpido
Duma ave a cantar,
São eles - guerreiros,
Que faço avançar.
VIII
E o Piaga se ruge
No seu Maracá,
A morte lá paira
Nos ares frechados,
Os campos juncados
De mortos são já:
Mil homens viveram,
Mil homens são lá.
IX
E então se de novo
Eu toco o Boré;
Qual fonte que salta
De rocha empinada,
Que vai marulhosa,
Fremente e queixosa,
Que a raiva apagada
De todo não é,
Tal eles se escoam
Aos sons do Boré.
- Guerreiros, dizei-me,
- Tão forte quem é?
Gonçalves Dias
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ATIVIDADE DE LEITURA
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QUESTÃO 1
A linguagem do poema “O canto do
guerreiro” organiza-se por meio de várias palavras que remetem à coragem e à
contemplação da natureza de um índio que está disposto a enfrentar qualquer
obstáculo. Diante disso, explique os seguintes aspectos, essenciais à primeira
geração do Romantismo:
A) Identifique
elementos que mostram a valentia do índio.
B) Explique a relação
entre o índio e a natureza.
ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 2
Neste poema, há uma valorização
do índio como herói nacional. Este esteriótipo é construído na relação entre
palavra, mundo natural e social. Tal ligação apresenta-se num tom envolvente
com a reafirmação constante da liderança do guerreiro. Explique como isso
ocorre no texto.
ATIVIDADE DE USO DA
LÍNGUA
QUESTÃO 3
Interpretando a realidade,
distinguimos e classificamos os elementos ao nosso redor. É assim que, por
exemplo, opomos, por meio de palavras, diferentes formas de moradia. Mas, o que
nos faz classificar uma habitação como “casa”, “apartamento”, “cabana”, “chalé”
ou “iglu”? Para distinguirmos esses tipos de moradia, utilizamos critérios,
como o material de que é formada, sua extensão, seu formato etc.
Em nossos estudos sobre a
língua, já aprendemos que, tradicionalmente, as palavras são reunidas em 10
classes. Agora, iremos aprofundar a distinção entre essas classes, a partir dos
três critérios apresentados na tabela abaixo e, assim, responder aos itens que
se seguem.
Classe
Gramatical
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Critério
Semântico
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Critério
Morfológico
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Critério
Sintático
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Substantivo
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Nomeia seres ou
coisas (reais ou imaginários).
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Termo variável:
admite flexão de gênero e número.
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Termo determinado:
ocupa o núcleo de uma expressão (sintagma nominal).
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Adjetivo
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Especifica e
caracteriza seres ou coisas, atribuindo-lhes estados ou qualidades.
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Termo variável:
admite flexão de gênero e número.
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Termo determinante:
qualifica o substantivo a que se refere e com o qual concorda em gênero e
número.
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Artigo
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Define ou indefine o
substantivo.
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Termo variável:
admite flexão de gênero e número.
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Termo determinante:
determina ou indetermina o substantivo a que se refere e com o qual concorda
em gênero e número.
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Pronome
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Indica as pessoas do
discurso a que o substantivo se refere, situando-o no espaço.
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Alguns admitem
flexão (como os pronomes possessivos), outros não (como alguns pronomes
pessoais e os indefinidos).
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Substitui o
substantivo (termo determinado) ou especifica o substantivo (termo
determinante).
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Numeral
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Indica a quantidade
dos seres, sua ordenação ou proporção.
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Alguns admitem flexão
(como os numerais ordinais), outros não (como a maioria dos cardinais).
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Substitui o
substantivo (termo determinado) ou especifica o substantivo (termo
determinante).
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Verbo
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Indica processos
(ações, estados, mudanças de estados dos seres e fenômenos da natureza).
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Termo variável:
admite flexão de tempo, modo, número e pessoa.
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Em predicados
verbais, seleciona e relaciona os termos da oração.
Em predicados
nominais, os “verbos de ligação” expressam as noções gramaticais de tempo,
modo, aspecto, número e pessoa, compondo, junto a um nome, a predicação.
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Advérbio
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Modifica um verbo,
um adjetivo, um outro advérbio ou toda uma oração.
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Termo invariável:
não admite flexão de gênero e número.
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Termo determinante:
especifica a significação do termo a que se refere.
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Preposição
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Relaciona palavras e
orações, explicando-as ou completando-as.
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Termo invariável:
não admite flexão de gênero e número.
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Conecta termos,
subordinando-os.
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Conjunção
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Relaciona palavras e
orações, explicando-as ou completando-as.
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Termo invariável:
não admite flexão de gênero e número.
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Conecta termos,
subordinando-os ou coordenando-os.
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Interjeição
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Exprime emoção
súbita, apelo ou estado de espírito.
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Termo invariável:
não admite flexão de gênero e número.
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Funciona como uma
frase, pois apresenta sentido completo.
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a.
Com base nesses
critérios, destaque do texto um substantivo e um adjetivo a ele
relacionado, explicando a diferença entre essas duas classes de palavras.
b.
Considerando que uma
mesma expressão pode ser utilizada de diferentes maneiras e, por isso, ser
classificada de formas distintas, explique a que classe gramatical pertence a
palavra “feitos” em: “Quem canta seus feitos /
Com mais energia?” (4ª estrofe).
TEXTO GERADOR II
A segunda geração do Romantismo,
chamada de Mal do Século ou Ultrarromantismo, ocorreu nas décadas de 50 e 60 do
século XIX e caracterizou-se pelo pessimismo, pela atração pela noite, pela
morte, pelo subjetivismo, e pelo sentimentalismo. Quanto ao amor, há uma visão
dualista cercada de atração e medo, desejo e culpa, afastando-os de uma
concretização amorosa real. Para isso, o eu-lírico expressa a mulher em termos
de um anjo, de uma virgem, e sugere o amor carnal de uma maneira vaga, indireta,
superficial, possível somente nos sonhos. Isso ocorre nos poemas de Álvares de
Azevedo (1831-1852), principal representante da geração ultrarromântica. A
seguir, temos o poema “Soneto”, exemplo da obra “Lira dos vinte anos”, alvo de
discussão sobre a organização da linguagem e das figuras de linguagem.
SONETO
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito
de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era a mais bela! Seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
QUESTÃO 4
Na geração do mal do século, os
autores organizavam sua linguagem de modo a mostrar imagens sugestivas de um
pensamento focado na morte, no medo de amar, no pessimismo diante do mundo.
Para isso, o eu-lírico usa estratégias baseadas nas palavras, no tempo e no
modo de ver a amada. Diante disso, responda às seguintes questões:
A.
Como a morte é vista
pelo eu-lírico?
B.
Explique como a amada
é percebida em cada estrofe?
C.
Como ocorre o processo
de materialização da mulher amada?
ATIVIDADE DE USO DA
LÍNGUA
QUESTÃO 5
No poema “Soneto”, de Álvares de
Azevedo, as figuras de linguagem atuam na construção de uma imagem de uma
mulher pura, virgem, angelical, inatingível no plano real, existente somente no
plano dos sonhos. Para isso, o eu-lírico usa a metáfora, a comparação, a
antítese e a anáfora.
A metáfora é uma figura de
linguagem que consiste na comparação implícita com a ausência da partícula
“como”. Já a comparação tem a palavra “como”, estabelecendo semelhanças entre
os seres ou coisas. A antítese consiste em relações contrárias, como vida x
morte. A anáfora é uma repetição que geralmente vem no início do verso.
Baseando-se nesses conceitos, responda:
A.
Cite um verso para
cada figura de linguagem: metáfora, comparação, antítese e anáfora. Em seguida,
explique o sentido construído por cada figura no verso destacado.
B.
Explique o sentido da
metáfora da mulher angelical em “Era um anjo entre nuvens d'alvorada” (7º
verso) e seu contraste com a mulher real em “Era a mais bela! Seio
palpitando...” (9º verso).
TEXTO GERADOR III
Esta geração é assim chamada
devido ao simbolismo do condor, ave que voa a grandes alturas, transmitindo uma
sensação de liberdade. Associado a isso, os poetas dessa época expressam um
discurso persuasivo a favor da liberdade política e social. Um exemplo disso é
Castro Alves, que exalta a natureza brasileira e se dedica às causas humanas,
entre elas o abolicionismo. A seguir, o poema “A mãe do cativo”, que será alvo
de reflexão sobre a linguagem e sobre a sociedade.
A mãe do cativo
Ó mãe do cativo!
que alegre balanças
A rede que ataste nos galhos da selva!
Melhor tu farias se a pobre criança
Cavasses a cova por baixo da relva.
Ó mãe do cativo! que
fias à noite
As roupas do filho na choça da palha!
Melhor tu farias se ao pobre pequeno
Tecesses o pano da branca mortalha.
Misérrima! E
ensinas ao triste menino
Que existem virtudes e crimes no mundo
E ensinas ao filho que seja brioso,
Que evite dos vícios o abismo profundo ...
E louca, sacodes
nesta alma, inda em trevas,
O raio da espr'ança... Cruel ironia!
E ao pássaro mandas voar no infinito,
Enquanto que o prende cadeia sombria! ...
II
Ó Mãe! não despertes
est'alma que dorme,
Com o verbo sublime do Mártir da Cruz!
O pobre que rola no abismo sem termo
Pra qu'há de sondá-lo... Que morra sem luz.
Não vês no futuro
seu negro fadário,
Ó cega divina que cegas de amor?!
Ensina a teu filho - desonra, misérias,
A vida nos crimes - a morte na dor.
Que seja covarde...
que marche encurvado...
Que de homem se torne sombrio réptil.
Nem core de pejo, nem trema de raiva
Se a face lhe cortam com o látego vil.
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Arranca-o do
leito... seu corpo habitue-se
Ao frio das noites, aos raios do sol.
Na vida - só cabe-lhe a tanga rasgada!
Na morte - só cabe-lhe o roto lençol.
Ensina-o que
morda... mas pérfido oculte-se
Bem como a serpente por baixo da chã
Que impávido veja seus pais desonrados,
Que veja sorrindo mancharem-lhe a irmã.
Ensina-lhe as dores
de um fero trabalho...
Trabalho que pagam com pútrido pão.
Depois que os amigos açoite no tronco...
Depois que adormeça co'o sono de um cão.
Criança - não trema
dos transes de um mártir!
Mancebo - não sonhe delírios de amor!
Marido - que a esposa conduza sorrindo
Ao leito devasso do próprio senhor! ...
São estes os cantos
que deves na terra
Ao mísero escravo somente ensinar.
Ó Mãe que balanças a rede selvagem
Que ataste nos troncos do vasto palmar.
III
Ó Mãe do cativo, que
fias à noite
À luz da candeia na choça de palha!
Embala teu filho com essas cantigas...
Ou tece-lhe o pano da branca mortalha.
|
QUESTÃO 6
Na fala ou na escrita, cada uma
de nossas escolhas linguísticas expressa um diferente ponto de vista sobre o
que dizemos e/ou sobre como o dizemos. Dentre essas escolhas, estão
os modos verbais. São eles:
Indicativo
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Subjuntivo
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Imperativo
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Expressa o fato como
certo.
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Expressa o fato como
incerto, duvidoso ou apenas de possível realização.
|
Expressa uma ordem,
um conselho ou uma súplica.
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Relacionando a escolha dos modos
verbais feita pelo poeta ao sentido dos versos, responda:
a.
Em que modo estão
conjugados os verbos que estruturam o último verso da primeira e da segunda
estrofe? Qual a diferença de sentido entre esses verbos e aqueles que compõem o
primeiro e o segundo verso das mesmas estrofes?
b.
“Despertes”, “ensina”,
“arranca”. Em que modo verbal estão conjugados esses verbos que compõem o
segundo canto? Qual a importância dessa escolha linguística para a construção
do poema?
ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 7
O poema traz à tona o modo como
o escravo vivia. Era maltratado, desprezado, sentia dor, tristeza, usava roupas
em más condições e, na morte, era coberto com tecido destroçado. Refletindo
sobre o problema da discriminação social, faça o que se pede:
A) Identifique na
primeira, segunda, sexta e sétima estrofes, ações e condições que denunciam
esse problema.
B) Em relação à
postura da mãe do cativo, comente uma característica que revele a construção de
esteriótipo do negro no poema.
Texto Complementar (texto teórico) “O Romantismo no
Brasil”
O texto a seguir comenta
criticamente a escola literária romântica. Apresentando o contexto histórico e
destacando os principais traços da estética, esse texto teórico também pode
contribuir para a abordagem deste ciclo por permitir o trabalho com o gênero
resumo. A partir de “O Romantismo no Brasil”, ainda serão contempladas questões
do eixo leitura.
O Romantismo no Brasil
Após 1822, cresce no
Brasil a busca pelo passado histórico e a exaltação da natureza da pátria –
características já cultivadas na Europa e que se encaixavam perfeitamente à
necessidade brasileira de ofuscar profundas crises sociais, financeiras e
econômicas. De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado como reflexo
do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembleia Constituinte; a
Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português
contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e,
finalmente, a abdicação. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura
de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo
brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.
[...]
Um dos fatos mais
importantes do Romantismo foi a criação de um novo público, uma vez que a
literatura torna-se mais popular, o que não acontecia com os estilos de época
de características clássicas. Surge o romance, forma mais acessível de
manifestação literária; e o teatro ganha novo impulso, abandonando as formas
clássicas. Com a formação dos primeiros cursos universitários em 1827 e com o
liberalismo burguês, dois novos elementos da sociedade brasileira representam
um mercado consumidor a ser atingido: o estudante e a mulher.
No prefácio de
“Suspiros poéticos e saudades”, Gonçalves de Magalhães nos dá uma ótima visão
do que era o romantismo para um autor romântico:
É um livro de poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado
entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora
no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço;
ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do
cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre os túmulos;
ora enfim refletindo sobre a sorte da pátria, sobre as paixões dos homens,
sobre o nada da vida. Poesias d’alma e do coração, e que só pela alma e pelo
coração devem ser julgadas. Quanto à forma, isto é, a construção, por assim
dizer, material das estrofes, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as ideias como
elas se apresentaram, para não destruir o acento da inspiração; além de que, a
igualdade de versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estrofes produz
uma tal monotonia, que jamais podem agradar.
Quanto ao conteúdo, os
românticos cultivavam o nacionalismo, que se manifestava na exaltação da
natureza da pátria, no retorno ao passado histórico e na criação do herói
nacional, no caso brasileiro, o índio (o nosso cavaleiro medieval). Da
exaltação do passado histórico vem o culto à Idade Média, que, além de
representar as glórias e tradições do passado, também assume o papel de negar
os valores da Antiguidade Clássica. Da mesma forma, a natureza, ora é a
extensão da pátria, ora é um prolongamento do próprio poeta e seu estado
emocional, um refúgio à vida atribulada dos centros urbanos do século XIX.
Outra característica
marcante no romantismo e verdadeiro “cartão de visita” de toda a escola foi o
sentimentalismo, a valorização dos sentimentos, das emoções pessoais: é o mundo
interior que conta, o subjetivismo. E, à medida que se volta para o eu, para o
individualismo, o pessoalismo, perde-se a consciência do todo, do coletivo, do
social. A constante valorização do eu gera o egocentrismo; os poetas
românticos se colocavam como o centro do universo. É evidente que daí surge um
choque da realidade e o seu mundo. A derrota inevitável do eu leva a um estado
de frustração e tédio. Daí, as seguidas e múltiplas fugas da realidade: o
álcool, o ópio, as “casas de aluguel” (prostíbulos), a saudade da infância, a
idealização da sociedade, do amor e da mulher. No entanto, essas fugas têm ida
e volta, exceção feita à maior de todas as fugas românticas: a morte.
Já ao final do Romantismo
brasileiro, a partir de 1860, as transformações econômicas, políticas e sociais
levam a uma literatura mais próxima da realidade; a poesia reflete as grandes
agitações, como a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai, o ideal de
República. É a decadência do regime monárquico e o aparecimento da poesia
social de Castro Alves. No fundo, uma transição para o realismo.
Quanto ao aspecto
formal, a literatura romântica se apresenta descomprometida com os padrões e
normas estéticas do Classicismo. O verso livre, sem métrica e estrofação, e o
verso branco, sem rima, foram recorrentes na poesia romântica.
Fragmento adaptado.
Texto original
disponível em:
http://www.mundovestibular.com.br/articles/6517/1/Romantismo-no-Brasil/Paacutegina1.html
QUESTÃO 8
Ler é atribuir sentido a um
texto, fazendo inferências, tecendo anotações, destacando ideias principais,
relacionando informações. Assim, na leitura desse texto didático, você deve ter
observado que o principal objetivo do autor é caracterizar o Romantismo
no Brasil, que é tema e o título do texto. Para isso, após
apresentar o contexto histórico em que se insere essa estética literária, o
autor, nos três parágrafos após a citação, descreve as três gerações do
Romantismo.
Releia esses três parágrafos e
complete o quadro a seguir, caracterizando cada uma das fases do Romantismo no
Brasil. Para ajudá-lo, já preenchemos algumas lacunas.
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1ª Geração
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2ª Geração
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3ª Geração
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Em que período histórico (data) se insere?
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Aproximadamente em
1853, com a publicação da poesia de Álvares de Azevedo.
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Qual temática central dos textos?
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O Nacionalismo
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Que elementos do texto (personagens, figuras ou sentimentos) refletem
essa temática?
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- O negro (escravo).
- O caráter social
da poesia: a busca pela liberdade.
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Quais fatos históricos poderiam ter motivado essa temática?
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- A Independência do
Brasil e a necessidade de construção de uma identidade nacional.
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- A influência de
autores europeus, como Lorde Byron, autor inglês, que tratava de temas como a
frustração, a melancolia e a morte.
- A morte de muitos
devido à tuberculose.
|
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ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 9
Na questão 8, você pontuou
algumas características das três gerações do Romantismo no Brasil. Agora, que
tal ampliarmos a leitura do texto, destacando as principais informações de cada
parágrafo? Fazendo isso, estaremos dando o primeiro passo na construção de um
resumo.
Sabemos que os parágrafos
representam blocos de ideias que dividem uma sequência de informações ou
pensamentos. Os parágrafos dissertativos considerados padrão são formados por
uma estrutura muito semelhante a um texto formado por vários parágrafos, pois
apresentam:
a) tópico frasal,
que resume o conteúdo do parágrafo, expressando, de maneira sucinta, a ideia
núcleo;
b) desenvolvimento,
no qual se indicam as ideias secundárias, completando e/ou comprovando a ideia
núcleo;
c) conclusão, que
consiste em uma reorganização resumida do objetivo proposto no tópico frasal e
dos aspectos ou detalhes particulares explicitados no desenvolvimento do
parágrafo.
Assim, podemos dizer que o
parágrafo é um microtexto.
A partir dessas informações,
indique o Tópico Frasal ou a Ideia Núcleo de cada um dos
parágrafos do Texto Complementar, preenchendo a tabela que se segue.
Você verá que, identificando os
tópicos frasais, poderá compreender melhor o conteúdo de cada parágrafo e, por
conseguinte, ter uma ideia global de todo o texto. Além disso, enumerando as
informações principais do texto e eliminando as ideias secundárias (como
exemplos, consequências e explicações mais detalhadas), você já terá iniciado a
questão seguinte: a produção de um resumo.
Parágrafo:
|
Tópico Frasal ou Ideia Núcleo:
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1º
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2º
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3º
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4º
|
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5º
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6º
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7º
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ATIVIDADE DE PRODUÇÃO
TEXTUAL
QUESTÃO 10
Quantas vezes um professor lhe
pediu para fazer um resumo? E quantas vezes, sem saber ao certo como construir
esse texto, você copiou trechos do texto original, recebendo, por isso, uma
avaliação negativa de sua tarefa?
Construir resumos é uma maneira
muito produtiva de compreendermos conteúdos de diferentes áreas. Mas, para essa
tarefa, devemos, ter em mente que o resumo consiste em uma apresentação
sintética das principais ideias de um texto, ressaltando sua progressão e
articulação. Assim, um resumo deverá ser fiel às ideias do autor e apresentar,
na indicação dos principais conceitos, uma estrutura lógica.
Para, então, construirmos um bom
resumo, podemos seguir estes passos:
1º. Leia o texto a ser resumido,
identificando seu tema, seu objetivo e de que maneira ele se organiza.
2º. Destaque, em cada parágrafo ou
capítulo, as ideias principais (os tópicos frasais ou as ideias núcleo).
3º. Reescreva as ideias principais,
utilizando a paráfrase, isto é, sem copiar frases do texto!
4º. Com base nessas anotações que você
fez, redija seu resumo, estando atento à relação entre cada ideia. Mas, antes
de iniciar este passo, guarde o texto que você quer resumir! Se você ficar com
o texto à sua frente, vai acabar copiando algumas frases!
A partir dessa técnica, elabore
um resumo para o Texto Complementar. Mas, se você está atento, percebeu que,
nas questões anteriores, já desenvolvemos os dois primeiros passos. Agora,
então, retome a síntese que construiu na questão 9, utilize a paráfrase
TEXTO GERADOR I
O romance “Lucíola” (1862), de
José de Alencar, constitui um exemplar da vertente urbana da prosa romântica.
Tendo sido o primeiro da trilogia (“Lucíola”, “Diva” e “Senhora”) criada pelo
autor, a narrativa representou grande ousadia na época de sua publicação ao
abordar o polêmico tema da prostituição. O texto a seguir é o segundo capítulo
do livro e trata da chegada do personagem Paulo à cidade do Rio de Janeiro e de
seu primeiro encontro com a cortesã Lúcia em uma festa religiosa. Paulo está
acompanhado de seu amigo Sá, que lhe apresenta à jovem.
LUCÍOLA
CAPÍTULO II
A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855.
Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e
companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas
festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais, serpejava
nas faldas do outeiro, e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a
multidão do povo.
Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada
uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso
panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado
tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos.
Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e
conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha, e
resolvido a estabelecer ali o meu observatório.
Para um provinciano recém-chegado à
corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde,
uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações?
Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o
africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna
ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões,
desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da
sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram
em face de mim, roçando a seda e a casimira
pela baeta ou pelo algodão,
misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do
havana às acres baforadas do cigarro de palha.
— É uma festa filosófica essa festa da Glória!
Aprendi mais naquela meia hora de observação do que nos cinco anos que acabava
de esperdiçar em Olinda com uma prodigalidade verdadeiramente
brasileira.
A lua vinha assomando
pelo cimo das montanhas fronteiras;
descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um
instante para contemplar no horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e estrelado. Admirei-lhe do primeiro
olhar um talhe esbelto e de suprema
elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e
dava esquisito realce a um desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues vapores da alvorada. Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e
não sei que laivos de tão ingênua
castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição.
— Já vi esta moça! disse comigo. Mas onde?...
Ela pouco demorou-se na sua graciosa imobilidade e
continuou lentamente o passeio interrompido. Meu companheiro cumprimentou-a com
um gesto familiar; eu, com respeitosa cortesia,
que me foi retribuída por uma imperceptível inclinação da fronte.
— Quem é esta senhora? perguntei a Sá.
A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo,
de bonomia e fatuidade, que desperta
nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das
banalidades sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita.
Queres conhecê-la ?. . .
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana,
que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência.
Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um
marido, ou de um irmão, devia-me ter feito suspeitar a verdade.
Depois de algumas voltas descobrimos ao longe a
ondulação do seu vestido, e fomos encontrá-la, retirada a um canto,
distribuindo algumas pequenas moedas de prata à multidão de pobres que a
cercava. Voltou-se confusa ouvindo Sá pronunciar o seu nome:
— Lúcia!
— Não há modos de livrar-se uma pessoa desta gente!
São de uma impertinência! disse ela mostrando os pobres e esquivando-se aos
seus agradecimentos.
Feita a apresentação no tom desdenhoso e altivo com
que um moço distinto se dirige a essas sultanas do ouro, e trocadas algumas
palavras triviais, meu amigo perguntou-lhe:
— Vieste só?
— Em corpo e alma.
— E não tens companhia para a volta?
Ela fez um gesto negativo.
— Neste caso ofereço-te a minha, ou antes a nossa.
— Em qualquer outra ocasião aceitaria com muito prazer;
hoje não posso.
— Já vejo que não foste franca!
— Não acredita?. .. Se eu viesse por passeio!
— E qual é o outro motivo que te pode trazer à festa
da Glória?
— A senhora veio talvez por devoção? disse eu.
— A Lúcia devota!. . . Bem se vê que a não conheces.
— Um dia no ano não é muito! respondeu ela sorrindo.
— É sempre alguma coisa, repliquei.
Sá insistiu:
— Deixa-te disso; vem conosco.
— O senhor sabe que não é preciso rogar-me quando se
trata de me divertir. Amanhã, qualquer dia, estou pronta. Esta noite, não!
— Decididamente há alguém que te espera.
— Ora! Faço mistério disto?
— Não é teu costume decerto.
— Portanto tenho o direito de ser acreditada. As
aparências enganam tantas vezes! Não é verdade? disse voltando-se para mim com
um sorriso.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999,
p.14-18.
QUESTÃO 1
No texto, Paulo narra sua
chegada ao Rio de Janeiro em 1855, expressando as ações, as atitudes e os
perfis da vida urbana que chamam sua atenção. Além disso, destaca-se um
comentário sobre a personagem Lúcia.
A partir dos fragmentos
retirados do texto gerador 1, faça o que se pede:
A.
Identifique e explique
como o narrador descreve a desigualdade social da sociedade de 1855.
Todas as raças, desde o caucasiano sem
mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da
política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido;
todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os
tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil
lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou
pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo
aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.
— É uma festa filosófica essa festa da Glória!
Aprendi mais naquela meia hora de observação do que nos cinco anos que acabava
de esperdiçar em Olinda com uma prodigalidade verdadeiramente brasileira.
(Parágrafos: 5º e 6º)
B.
Comente sobre as
reações de Paulo e do seu amigo Dr. Sá na apresentação de Lúcia e relacione à
posição feminina da época.
— Quem é esta senhora?
perguntei a Sá.
A resposta foi o
sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta
nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das
banalidades sociais.
— Não é uma senhora,
Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la ?. . .
Compreendi e corei de
minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com
o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que
a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-me ter feito
suspeitar a verdade.
(Parágrafos: 10º até
13º).
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 2
A gramática tradicional trata
como termos essenciais da oração o sujeito e o predicado. Sujeito é um termo
que pode se referir a uma pessoa, um animal, uma planta, um objeto, um lugar
sobre o qual se faz uma declaração. Já predicado é tudo aquilo que se informa
sobre o sujeito, podendo indicar uma ação ou estado.
Diante disso,
identifique o sujeito e predicado das seguintes expressões do texto:
A. “Já vi esta moça!”
(8º parágrafo).
B. “- É uma festa
filosófica essa festa da Glória” (6º parágrafo).
TEXTO GERADOR II
No quarto capítulo, os
protagonistas Lúcia e Paulo têm um encontro amoroso. De início, Lúcia se sente
incomodada com a situação, o que deixa Paulo constrangido. Ele, nesse momento,
ainda não entende os sentimentos da jovem, que, já apaixonada, sente-se mal por
exercer seu papel de cortesã com o homem a quem ama. A partir deste fragmento
do romance, serão trabalhadas duas habilidades de uso da língua.
LUCÍOLA
CAPÍTULO IV
(...)
Quando, porém, os meus
lábios se colaram na tez de cetim e
meu peito estreitou as formas encantadoras que debuxavam a seda, pareceu-me que o sangue lhe refluía ao coração.
As palpitações eram bruscas e precipites.
Estava lívida e mais branca do que o
alvo colarinho do seu roupão. Duas lágrimas em fio, duas lágrimas longas e
sentidas, como dizem que chora a corça
expirando, pareciam cristalizadas
sobre a face, de tão lentas que rolavam.
É o coração, quando
fortemente confrangido por violenta
emoção, que espreme esse soro do sangue que gela e coalha.
Pungiu-me aquela aflição.
Retirei vivamente o
braço; enquanto Lúcia sentava-se trêmula, afastei-me revoltado contra mim, e,
ao mesmo tempo, indignado contra essa mulher que zombava da minha credulidade,
e contra Sá que me iludira. Não sabia o que pensar; para fugir a uma posição
que me incomodava horrivelmente, fui debruçar-me na janela.
Um instante depois,
ouvi sua voz doce e carinhosa:
— Não se agaste
comigo!
Voltei-me; ela sorriu
a dois passos de mim, e com uma expressão suplicante, como de quem pedisse
perdão.
— Acabemos com isso, Lúcia.
Sabes o que me traz à tua casa: se te desagrado por qualquer motivo, dize
francamente, que eu tomo o meu chapéu e não te aborrecerei mais. Se pensas que
valho tanto como os outros, não percas o tempo a fingir o que não és. Esta
comédia de amor pode divertir os mocinhos de dezoito anos e os velhos de
cinquenta; mas afianço-te que não lhe acho a menor graça.
— Não seja tão
injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou alguma coisa que eu lhe
negasse? Já me recusei a um pedido seu?
— Entretanto, te
ofendeste com uma simples carícia!
— Não me ofendi; e a
prova é que não dei sinal de desagrado, nem conservo o menor ressentimento. Não
me conhece!... Sei o que valho, e não sou capaz de iludir a ninguém, muito
menos ao senhor.
— Mas, há pouco, o que
significavam essas lágrimas?
— Ah, não repare!
Sofro do coração; às vezes sobe-me o sangue à cabeça, fico muito pálida, e
sinto uma dor aguda que me arranca lágrimas dos olhos!... Não é nada; passa-me
logo. Já passou! concluiu com um sorriso dorido.
— É diferente;
desculpa. Incomodava-me essa ideia de pensares que estava disposto a fazer-te a
corte. Seria soberanamente ridículo para nós ambos.
— Decerto!
Lúcia acompanhou estas
duas palavras com um riso estridente e um olhar que ainda vejo brilhar nas
sombras de minhas recordações: olhar vivo e cintilante, que luziu como as chispas do brilhante ferido pela réstia da luz, e veio bater-me em cheio
na face, cobrindo-me com o mais agro desprezo que pode estilar um coração de
mulher.
Dirigiu-se a uma porta
lateral, e fazendo correr com um movimento brusco a cortina de seda, desvendou
de relance uma alcova elegante e primorosamente ornada. Então, voltou-se para
mim com o riso nos lábios, e de um gesto faceiro
da mão convidou-me a entrar.
(...)
Era outra mulher.
(...)
Saí alucinado!
(...)
Ao retirar-me ia
segunda vez levar a mão à carteira, quando o olhar de Lúcia correu-me de
vergonha. Entretanto ela, abatida ainda, porém calma, apertava-me a mão por
despedida. Que magia tinham aqueles olhos fúlgidos, quando um sentimento forte
lhes toldava a doce serenidade!
Conto-lhe estes fatos,
como se escrevesse no dia em que eles sucederam, ignorando o seu futuro;
entretanto, talvez que, apesar disto, compreenda as palavras equívocas e as
causas ocultas que naquela ocasião resistiram à minha perspicácia.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999,
p.23-28. Texto adaptado.
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
|
QUESTÃO 3
São dois os termos essenciais da
oração: sujeito e predicado. O sujeito é o ser sobre o qual se faz uma
declaração, podendo se referir a pessoas, animais, coisas, plantas, entre
outros. Há orações com sujeito simples (um núcleo), composto (mais de um
núcleo) e oculto (omissão do sujeito, reconhecido pela concordância) e há casos
de sujeito indeterminado (sujeito não pode ser identificado ou verbo na 3ª
pessoa do plural ou do singular, com o pronome se) e de oração sem sujeito
(verbo impessoal e inexistência do sujeito). O predicado é a declaração que se
faz do sujeito podendo ser verbal, nominal e verbo-nominal.
No enunciado de “Lucíola” “Não
seja tão injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou
alguma coisa que eu lhe negasse? Já me recusei a um pedido seu?”, há
uma característica em comum nas orações sublinhadas anteriormente:
(A) O uso do predicado
nominal, pois é demonstrado o sentimento da protagonista.
(B) A presença do
predicado verbo-nominal, pois são transmitidas a ação e a emoção.
(C) A ocorrência do
sujeito oculto, pois o sujeito está implícito nas declarações.
(D) A recorrência ao
sujeito simples, pois as orações remetem à fala de Lúcia.
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 4
No cotidiano, o ser humano pode
usar expressões, pronomes, numerais, artigos e substantivos para fazer remissão
a algo já dito anteriormente (anáfora) ou estabelecer relação a uma informação
posterior (catáfora), constituindo o que se chama de coesão referencial. Exemplo 1: Ana foi ao baile. Ela gostou muito
(Ela refere-se à Ana). Exemplo 2: Ela era tão boa, a minha mulher! (A minha
mulher refere-se ao pronome ela).
Já a coesão sequencial usa a progressão do
texto, podendo recorrer à mesma estrutura sintática, a expressões introdutoras
de uma explicação ou resumo (paráfrases), ao tempo e ao aspecto do verbo, às
conjunções, termos do mesmo campo lexical para manutenção do tema, adjunto
adverbial, entre outros recursos. Exemplo 1: Eu fui ao restaurante. Em
seguida, fui ao médico.
Considerando as
informações gramaticais sobre coesão referencial e sequencial, reflita sobre o
trecho abaixo, retirado do texto gerador 2, e responda às perguntas a seguir.
Um instante depois,
ouvi sua voz doce e carinhosa:
— Não se agaste
comigo!
Voltei-me; ela sorriu
a dois passos de mim, e com uma expressão suplicante, como de quem pedisse
perdão.
— Acabemos com isso,
Lúcia. Sabes o que me traz à tua casa: se te desagrado por qualquer motivo,
dize francamente, que eu tomo o meu chapéu e não te aborrecerei mais. Se pensas
que valho tanto como os outros, não percas o tempo a fingir o que não és. Esta
comédia de amor pode divertir os mocinhos de dezoito anos e os velhos de
cinquenta; mas afianço-te que não lhe acho a menor graça.
— Não seja tão
injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou alguma coisa que eu lhe
negasse? Já me recusei a um pedido seu?
— Entretanto te
ofendeste com uma simples carícia!
— Não me ofendi; e a
prova é que não dei sinal de desagrado, nem conservo o menor ressentimento. Não
me conhece!... Sei o que valho, e não sou capaz de iludir a ninguém, muito
menos ao senhor.
A. Quais são os termos
gramaticais que Paulo utiliza para se referir à Lúcia?
B. O adjunto adverbial
“um instante depois”, no início do fragmento, tem a função referencial ou
sequencial? Por quê?
TEXTO GERADOR III
No capítulo final da narrativa,
Lúcia, já afastada da corte, volta a ser Maria da Glória. Grávida e muito
doente, ela pede a Paulo que se case com sua irmã. Ele, no entanto, rejeita a
proposta, mas concorda em cuidar da menina. Lúcia morre juntamente com o bebê
que espera. É a redenção da heroína romântica. A partir deste texto, serão
abordadas habilidades de leitura e de uso da língua.
LUCÍOLA
CAPÍTULO XXI
Era um domingo.
O novo ano tinha começado. A bonança que sucedera às grandes chuvas trouxera um dos sorrisos de
primavera, como costumam desabrochar no Rio de Janeiro entre as fortes
trovoadas do estio. As árvores
cobriam-se da nova folhagem de um verde tenro;
o campo aveludava a macia pelúcia da
relva, e as frutas dos cajueiros se douravam aos raios do sol.
Uma brisa ligeira, ainda impregnada das evaporações
das águas, refrescava a atmosfera Os lábios aspiravam com delícias o sabor
desses puros bafejos, que lavavam os pulmões fatigados de uma respiração árida
e miasmática. Os olhos se recreavam na festa campestre e matutina da
natureza fluminense, da qual as
belezas de todos os climas são convivas.
Subia a passo curto e repousado a ladeira de Santa
Teresa, calculando a hora de minha chegada pelo despertar de Lúcia; o meu
pensamento, porém abria as asas, e precedendo-me, ia saudar a minha doce e
terna amiga.
Havia oito dias que Lúcia não andava boa. A fresca e
vivace expansão de saúde desaparecera sob uma langue morbidez que a desfalecia; o seu sorriso, sempre angélico, tinha
uns laivos melancólicos, que me
penavam. Às vezes a surpreendia fitando em mim um olhar ardente e longo; então,
ela voltava o rosto de confusa, enrubescendo.
Tudo isto me inquietava; atribuindo a sua mudança a algum pesar oculto, a tinha
interrogado, suplicando-lhe que me confiasse as mágoas que a afligiam.
— Não digas isso, Paulo! Respondia com um tom de
queixa. Posso ter pesares junto de ti? É uma ligeira indisposição; há de
passar.
De bem longe avistei Lúcia que me esperava e me fez
um aceno de impaciência; apressei o passo para alcançar o portão do jardim. Ela
estendeu-me as mãos ambas risonha e atraindo-me, reclinou-se sobre o meu peito
com um gracioso abandono. Sentamo-nos nos degraus da pequena escada de pedra, e
informei-me de sua saúde.
— Já estou boa. Não vês?
Realmente as rosas de suas faces viçavam; era
cintilante o brilho que desferia a
sua pupila negra. Pelos lábios úmidos lentejava a onda perene de um sorriso, que orvalhava-lhe
o semblante de luz e graça.
(...)
Lúcia calou-se de súbito, empalidecendo. Toda a sua
pessoa assumiu-se, tomando a expressão vaga e estática de quem é absorvido por
um recolho íntimo: figurava uma pessoa escutando-se viver interiormente. Até
que ergueu-se espavorida; soltou um gemido pungente
levando a mão ao regaço, e caiu fulminada em meus braços.
O abalo interior que sofrera esse corpo delicado fora
tão forte, que a cintura do vestido se despedaçara.
Conduzi Lúcia ao seu leito, e só depois de cruéis
angústias tive o consolo de vê-la recobrar os sentidos, mas para cair logo numa
prostração, em que apesar dos meus rogos e instâncias, só a ouvia murmurar
surdamente estas palavras incompreensíveis:
— Eu adivinhava que ele me levaria consigo!
— Ele quem, minha boa Maria?
— O teu, o nosso filho! Respondeu-me ela.
— Como! Julgas ?. . .
— Senti há pouco o seu primeiro e o seu último
movimento!
— Um filho! Mas é um novo laço e mais forte que nos
prende um ao outro. Serás mãe, minha querida Maria? Terás mais esse doce
sentimento da maternidade para encher-te o coração; terás mais uma criatura com
quem repartir a riqueza inexaurível
de tua alma!
— Cala-te, Paulo! Ele morreu! Disse-me com a voz
surda. E fui eu que o matei!
— Para que te afliges assim! Nosso filho vive, há de viver!
Não sentiste há pouco o seu primeiro movimento.
Nisto chegou o médico a quem tinha escrito
imediatamente, e que depois de examinar o estado de Lúcia, declarou que não
inspirava receio. Ela estava ameaçada de um aborto, resultado do choque
violento que sofrera, quando conheceu que se achava grávida. O doutor, um dos
mais hábeis parteiros da corte, procurou desvanecer
os receios de Lúcia, assegurando-lhe que seu filho vivia, e nada ainda fazia
recear pela sua vida.
Apenas o médico saiu, ela olhou-me tristemente:
— Era o primeiro! Mas o tato das entranhas maternas,
sejam elas virgens ainda, não engana. Nosso filho, Paulo, o teu, porque ele era
mais teu do que meu, já não existe.
À noite declarou-se a febre; uma febre intensa que a
fez delirar. Foi então que conheci quanto eu vivia no seu pensamento: ela não
disse no delírio uma só palavra que não se referisse a mim e a alguma
circunstância de nossa vida mútua, desde o primeiro dia em que nos encontramos.
Pela manhã, depois de um sono curto e agitado, achei-a
mais tranquila:
— Tu me prometes, Paulo, casar com Ana!
— Não tratemos disso agora, minha amiga! Quando
ficares boa, tudo o que tu quiseres eu farei para a tua felicidade.
— Mas essa promessa me daria tanto agora!
Escuta, Maria, esse casamento nos tornaria infelizes
a ti, à tua irmã, e a mim que não poderia amá-la, mesmo por causa dessa
semelhança! Tu viverias sempre entre mim e ela!
— Pois bem, promete-me que se ela não for tua mulher,
lhe servirás de pai.
— Juro-te!
Beijou-me as mãos:
— Ela vai ter tanta necessidade de um pai!
Os acessos de febre repetiram-se durante três dias, e
sempre mais graves. Uma tarde em que o médico apresentou a Lúcia um remédio:
— Para que é isso? Perguntou ela com brandura.
— Para aliviá-la do seu incômodo. Logo que lançar o
aborto, ficará inteiramente boa.
— Lançar!... Expelir
meu filho de mim?
E o copo que Lúcia sustentava na mão trêmula,
impelido com violência, voou pelo aposento e espedaçou-se de encontro à parede.
— Iremos juntos!... murmurou descaindo inerte sobre as
almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo.
De joelhos à cabeceira eu suplicava-lhe que bebesse o remédio que a devia salvar.
— Queres acompanhar teu filho, Maria, e abandonar-me
só neste mundo. Vive por mim!
— Se eu pudesse viver, haveria forças que me
separassem de ti? Haveria sacrifício que eu não fizesse para comprar mais
alguns dias da minha felicidade? Mas Deus não quis. Sinto que a vida me foge!
A instâncias minhas bebeu finalmente o remédio, que
nenhum efeito produziu. A febre lavrava com intensidade; eu já não tinha
esperanças.
— O remédio de que eu preciso é o da religião. Quero
confessar-me, Paulo.
Lúcia tomou os sacramentos
com uma resignação angélica; e
abraçando a irmã, disse-lhe:
— Perdes uma irmã, Ana; fica-te um pai. Ama-o por
ele, por ti e por mim.
O dia se passou na cruel agonia que só compreendem
aqueles que ajoelhados à borda de um leito viram finar-se gradualmente uma vida
querida.
Quebrado de fadiga
e vencido por uma vigília de tantas
noites, tinha insensivelmente adormecido, sentado como estava à beira da cama,
com os lábios sobre a mão gelada de Lúcia e a testa apoiada no recosto do
leito. O sono foi curto, povoado de sonhos horríveis; acordei sobressaltado e achei-me reclinado
sobre o peito de Lúcia, que se sentara de encontro às almofadas para suster
minha cabeça ao colo, como faria uma terna mãe com seu filho.
Mesmo adormecido ela me sorria, me falava, e
cobria-me de beijos:
— Se soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te
neste momento! Agora que o corpo já está morto e a carne álgida, não sente nem a dor nem o prazer, é a minha alma só que te
beija, que se une à tua e se desprende parcela por parcela para se embeber em
teu seio.
E seus lábios ávidos
devoravam-me o rosto de carícias, bebendo o pranto que corria abundante de meus
olhos:
— Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse
bálsamo celeste, meu amigo!
Eu soluçava como uma criança.
— Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um
dia tua noiva! Oh! Agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se
mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes
poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por
instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo
tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por
toda a eternidade.
A voz desfaleceu
completamente, de extenuada que ela
ficara por esse enérgico esforço. Eu chorava de bruços sobre o travesseiro, e
as suas palavras suspiravam docemente em minha alma, como as dulias dos anjos devem ressoar aos
espíritos celestes.
— Nunca te disse que te amava, Paulo!
— Mas eu sabia, e era feliz!
— Tu me purificaste ungindo-me com os teus lábios. Tu
me santificaste com o teu primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio de nossas almas se fez no
seio do Criador. Fui tua esposa no céu! E, contudo essa palavra divina do amor,
minha boca não a devia profanar,
enquanto viva. Ela será meu último suspiro.
Lúcia pediu-me que abrisse a janela: era noite já; do
leito víamos uma zona de azul na qual brilhava límpida e serena a estrela da
tarde. Um sorriso pálido desfolhou-se ainda nos lábios sem cores: sublime êxtase iluminou a suave transparência
de seu rosto. A beleza imaterial dos anjos deve ter aquela divina limpidez.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999,
p.128-138.
QUESTÃO 5
O capítulo em destaque trata da
fase em que Lúcia fica doente. Depois de saber que está grávida de Paulo, ela
se sente em pecado, como se não pudesse viver o seu amor, pois havia sido
cortesã. Há um conflito entre o espírito e a carne, que impede a felicidade da
jovem, tornando o amor impossível de ser vivido na realidade e concretizável
somente no plano espiritual. Devido à gravidade de seu estado de saúde, a
personagem, muito enfraquecida, morre. Nesse momento, seu corpo é purificado
pelo beijo de Paulo. Reflita sobre o conflito entre carne e espírito de Lúcia,
lendo os trechos do quadro abaixo para responder às perguntas.
DOIS
MOMENTOS DE LÚCIA
|
CULPA EM VIDA
|
DECLARAÇÃO DE AMOR ANTES DA MORTE
|
Havia oito dias que Lúcia não andava boa. A fresca
e vivace expansão de saúde desaparecera sob uma langue morbidez que a desfalecia; o seu sorriso, sempre angélico, tinha
uns laivos melancólicos, que me
penavam. Às vezes a surpreendia fitando em mim um olhar ardente e longo;
então, ela voltava o rosto de confusa, enrubescendo.
Tudo isto me inquietava; atribuindo a sua mudança a algum pesar oculto, a
tinha interrogado, suplicando-lhe que me confiasse as mágoas que a afligiam.
|
E seus lábios ávidos
devoravam-me o rosto de carícias. Bebendo o pranto que corria abundante de
meus olhos:
— Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria
esse bálsamo celeste, meu amigo!
Eu soluçava como uma criança.
— Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um
dia tua noiva! Oh! Agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se
mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes
poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por
instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo
tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim
por toda a eternidade.
A voz desfaleceu
completamente, de extenuada que
ela ficara por esse enérgico esforço. Eu chorava de bruços sobre o
travesseiro, e as suas palavras suspiravam docemente em minha alma, como as dulias dos anjos devem ressoar aos
espíritos celestes.
— Nunca te disse que te amava, Paulo!
— Mas eu sabia, e era feliz!
— Tu me purificaste ungindo-me com os teus lábios.
Tu me santificaste com o teu primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio de nossas almas se fez no
seio do Criador. Fui tua esposa no céu! E, contudo essa palavra divina do
amor, minha boca não a devia profanar,
enquanto viva. Ela será meu último suspiro.
|
A.
Os sentimentos de Lúcia de introspecção, amor e tédio,
típicos do Romantismo, estão intimamente relacionados à sensação de pecado da
protagonista. Compare esses sentimentos de Lúcia com as suas confissões antes
da morte.
B.
O Romantismo é uma estética que refletiu os valores e a
moral da burguesia. A partir disso, comente o sentido da morte da protagonista
dentro da narrativa.
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 6
Em “Lucíola”, José de Alencar
usa constantemente figuras de linguagem para expressar as emoções, as ações e a
visão dos personagens diante da vida, dispondo de muitas figuras, destacando-se
a metáfora, a comparação, a metonímia, a hipérbole e o eufemismo.
A metáfora é uma
comparação implícita, existente no pensamento humano, como em “Eu sou uma rosa”. A comparação é uma comparação
explícita, usando a partícula “como”: “Eu sou como uma rosa”. A metonímia é uma figura que se baseia em relações
de substituição: “Lemos José de Alencar”
(autor e obra). O antonomásia é uma variedade de metonímia que consiste na
substituição de um nome próprio por comum ou vice-versa: “Gonçalves Dias, o cantor dos índios”. A hipérbole é uma
figura que consiste no exagero na mensagem: “Estou morto de cansado” (cansado demais).
Nos parágrafos: “Eu
soluçava como uma criança” e “E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de
caríciais”, são perceptíveis as seguintes figuras de linguagem:
(A) Metonímia e hipérbole.
(B) Antonomásia e comparação.
(C) Metáfora e metonímia.
(D) Comparação e hipérbole.
O último texto gerador
deste Roteiro de Atividades é um exemplar do gênero resenha. A partir da
leitura do romance “Iracema”, de José de Alencar, a autora destaca aspectos
gerais da obra e, com base na leitura de outros críticos, desenvolve seu
próprio ponto de vista. Esta resenha servirá de base para o trabalho com
importantes habilidades de leitura e de uso da língua, além de servir de
referência para a questão de produção textual.
“Iracema”, exuberância e encanto
ALENCAR, José de. Iracema. (Col.
Travessias). São Paulo. SP: Editora Moderna, 1993.
Publicado no ano 1865,
o romance romântico “Iracema”, segundo livro da linha indianista de José de
Alencar, foi muito bem aceito e elogiado por Machado de Assis em artigo
publicado em um dos principais jornais da época, “O Diário do Rio de
Janeiro”. Ainda hoje, a narrativa, uma das mais lembradas da prosa do
autor, é reconhecida por seu valor artístico.
O escritor José
Martiniano de Alencar, patrono da
cadeira número vinte três da ABL (Academia Brasileira de Letras), nasceu em
Messejana, no Estado do Ceará, no dia 01 de maio de 1829. Apesar de ter
desempenhado várias atividades no decorrer de sua vida, como o direito, o
jornalismo e a política, José de Alencar gravou seu nome entre os maiores
escritores da literatura brasileira. Em sua prosa, ele abraçou o projeto
romântico e, por meio das vertentes indianista, regionalista e urbana, revelou
várias faces da sociedade da época.
O belo e comovente
romance “Iracema”, certamente um dos mais emblemáticos da primeira geração do
Romantismo, traz a história de amor entre Martim, colonizador português do
Ceará, e Iracema, bela índia da tribo tabajara. A narração se inicia com Martim
indo à caça com seu amigo Poti, guerreiro da tribo pitiguara inimiga dos
tabajaras, e se perdendo nas matas ao adentrar no território rival.
Inesperadamente, ele encontra Iracema, que o acolhe e o leva à cabana do pai
dela. No desenrolar da história, a jovem se
apaixona por Martim, o que é tomado como traição, pois ela não poderia se
relacionar com nenhum homem, já que era sacerdotisa virgem de Tupã. Para tentar
viver o amor proibido, os jovens preferem fugir. Em decorrência disso, Irapuã,
chefe da tribo tabajara, decide se vingar do europeu e trava uma guerra com a tribo
rival. O bravo guerreiro, no entanto, não contava com a derrota de sua tribo. A
partir daí, a trama se encaminha para o seu final trágico. Além de ter sofrido
muito com a morte de seu povo, a índia ficou grávida e sozinha aguardando a
volta de seu amado esposo, que regressara a sua pátria. Pobre Iracema! Ao
retornar, Martim a encontra à beira da morte de tanto se esforçar para
alimentar seu filho Moacir.
Neste romance
indianista, o autor José de Alencar, além de idealizar o índio e a mulher,
exalta a natureza numa narrativa rica e envolvente. Tudo para dar mais beleza e
expressar sentimento de nacionalidade ao contar a lenda da fundação do Ceará.
Segundo vários críticos, a narrativa possui um caráter ao mesmo tempo poético e
prosaico. Por outro lado, o entendimento do texto guarda bastante dificuldade.
Isso ocorre, porque Alencar faz bastante uso da linguagem indígena. Esse,
porém, é um dos motivos que torna a obra riquíssima em detalhes linguísticos,
assim como as adjetivações e comparações que, usadas para descrever os
personagens e exaltar a natureza, fazem com que o leitor "viaje"
através da imaginação até a mata virgem descrita. Com efeito, essa descrição
exuberante, ou seja, o culto à natureza é uma das principais características do
Romantismo.
Sem dúvida, a obra é
muito importante, pois apresenta fatos históricos relativos à formação do
estado do Ceará. Entretanto, mais importante que isso é o fato de o romance
revelar um sentimento de nacionalidade único ao fazer uso de linguagem
característica e descrever tão bem as belezas naturais, o que proporciona
encantamento nos leitores até os dias atuais.
ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 7
A resenha acima, de
autoria de Adriana L. S. Gouvêa, apresenta o romance “Iracema”, de José de
Alencar. Nela, a autora, além de resumir brevemente a obra, expõe criticamente
seu ponto de vista em relação ao romance, chamando a atenção para sua
importância e para algumas de suas características.
A partir dessas
observações, responda:
Com base na leitura atenta dos
dois últimos parágrafos, identifique um trecho em que a autora comenta
criticamente a abordagem da natureza na obra “Iracema”, evidenciando um juízo
de valor.
ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 8
Os adjetivos e advérbios são
utilizados nos textos com variados propósitos. Em uma resenha, destacam-se seus
usos como uma forma de expor o juízo de valor acerca de determinada obra, bem
como seu papel modalizador, evitando um posicionamento categórico acerca de
determinado ponto. No último parágrafo, por exemplo, o advérbio “muito”,
associado ao adjetivo “importante” (“a obra é muito importante”), destaca o
juízo positivo que a autora faz da obra de José de Alencar. Observe o seguinte
trecho destacado da resenha e faça o que se pede:
“o entendimento do texto guarda bastante
dificuldade. Isso ocorre, porque Alencar faz abundante uso da linguagem
indígena. Esse, porém, é um dos motivos que torna a obra riquíssima em
detalhes linguísticos”.
Entre as alternativas abaixo,
marque aquela em que a substituição dos termos bastante e riquíssima
mantém o mesmo sentido do texto original.
a)
o entendimento do
texto guarda suficiente dificuldade;/ Porém, esse é um dos motivos que torna a
obra muito produtiva;
b)
o entendimento do
texto guarda muita dificuldade; / Porém, esse é um dos motivos que torna a obra
muito fértil;
c)
o entendimento do
texto guarda moderada dificuldade / Porém, esse é um dos motivos que torna a
obra sapientíssima;
d) o entendimento do texto guarda
excessiva dificuldade / Porém, esse é um dos motivos que torna a obra
nobilíssima”.
ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
QUESTÃO 9
No contato com uma obra
artística, é possível observar elementos que impressionam de algum modo. Uma
pintura, por exemplo, pode chamar atenção por suas cores e formas. Já um filme
pode atrair pela beleza ou emoção de suas cenas, enquanto um livro pode estimular
a imaginação e fazer refletir sobre várias questões. Mas como contar o que se
sente para alguém? Como motivar outras pessoas a ter a mesma experiência? A
resposta para essas questões pode estar no gênero textual resenha. Isso porque,
diferente do resumo, visto no ciclo passado, a resenha não traz apenas as
ideias principais de uma obra, mas revela o posicionamento crítico de seu
autor.
Neste momento, você está
convidado a desenvolver uma resenha sobre o romance lido neste bimestre,
“Lucíola”, de José de Alencar. Para ajudá-lo nesta atividade, você pode se
basear nas seguintes dicas:
1°. Depois de ler o livro, elabore um
pequeno resumo. Lembre-se que a resenha também precisa mostrar, sinteticamente,
de que trata a obra, qual a sua história.
2°. Pesquise sobre o autor, outros
textos escritos por ele, a época de sua produção e sua temática predominante.
3°. Tente avaliar como seria a história
do romance hoje. Pense de que forma são encaradas questões como o papel da
mulher, o amor, a prostituição etc. Então, avalie se o romance permanece atual
ou como ele pode contribuir para discutir essas questões.
4°. Pesquise outros textos críticos
sobre o livro analisado. Saber o que outros autores disseram sobre o romance
irá inspirar o seu trabalho e ajudar na construção de uma análise própria.
5°. Finalmente, defina o que dizer
sobre o livro lido. O que vale destacar? O que mais chamou sua atenção? Que
ideia quer defender?
Para se sentir mais seguro antes
de escrever, você também pode pedir ajuda ao seu professor para estruturar um
roteiro.
Agora, mãos à obra!