sexta-feira, 11 de outubro de 2013

SIMBOLISMO, GRAMÁTICA E PRODUÇÃO TEXTUAL- 2ª PARTE- 3º BIMESTRE



SIMBOLISMO E GRAMÁTICA E PRODUÇÃO TEXTUAL

TEXTO GERADOR 1

O primeiro texto gerador deste ciclo, o poema Cárcere das Almas, é de autoria de Cruz e Souza. Negro e filho de escravos, o poeta enfrentou o preconceito e se tornou um dos maiores nomes do Simbolismo no Brasil. Cruz e Sousa tem como temas constantes em sua obra a sublimação, o espiritualismo, o misticismo, a religiosidade, a pregação do amor e da grandeza moral. Cárcere das almas é um soneto bastante ilustrativo da estética simbolista e focaliza a espiritualidade, a sublimação.

CÁRCERE DAS ALMAS

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e funéreas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
Cruz e Sousa

Atroz: desumana, aflitiva.
Calabouço: prisão subterrânea;
cárcere; cadeia.
Cárcere: calabouço.
Colossais: com proporções de colosso
(agigantado, excepcional, grande
poderio ou soberania), extraordinárias.
Etéreo: celestial; sublime.
Funéreas: fúnebres (relativo à morte)
Grilhões: cadeias; laços, prisões.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 1:

O Simbolismo é um movimento literário que reflete um momento histórico bastante complexo: marca a transição para o século XX. Os males advindos da Revolução Industrial (a superpopulação nas grandes cidades, a briga por mercados consumidores, guerras entre as grandes potências etc.) aliados à incerteza quanto à eficiência dos métodos científicos na busca da compreensão do real, promovem uma crise: o homem é levado ao sentimento da descrença, da desesperança, do desalento. O período é tomado por um pessimismo que se reflete no abandono das correntes materialistas e no refúgio na realidade subjetiva, no inconsciente e no espiritualismo.

O poema “Cárcere das almas” traz uma temática que exemplifica, de forma clara, a tendência pessimista que marcou o fim do século XIX. No poema, nota-se uma preocupação do eu-lírico acerca da existência humana. Tendo em vista essa observação, responda:

a) De acordo com a 1ª estrofe do poema, a que limitação o ser humano estaria submetido?
b) Destaque pelo menos um par de versos da 3ª estrofe em que se reafirma o estado doloroso e angustiante em que se encontram as almas.

Habilidade trabalhada:

Reconhecer na estética simbolista traços da tendência pessimista do “fim do século”. Resposta comentada: Com essa questão, pretende-se que o aluno perceba que o movimento simbolista nasceu em um período de transição para o século XX, quando houve uma intensificação do processo burguês-industrial. É importante iniciar a correção mostrando que:

a) o Simbolismo surge na desilusão perante essa nova realidade;
b) o Simbolismo representa uma oposição ao materialismo cada vez mais crescente;
c) na poesia simbolista, é comum transparecer o sentimento de pessimismo, de descrença, de isolamento, de oposição ao ideário burguês e o desejo de sublimação.

A. A partir da análise do próprio título da poesia, “Cárcere das almas”, é possível chamar a atenção para a temática nela desenvolvida: a dor da existência humana. A palavra “cárcere” faz referência ao local onde se encontram as “almas” – que, por figurar no plural, sugere que a dor não é apenas do eu-lírico, mas da coletividade humana. É importante os alunos compreenderem que os simbolistas tendem a buscar a essência do ser humano, aquilo que ele tem de mais profundo. Nesse sentido, o poema “Cárcere das almas” é bastante representativo, pois denota a preocupação do eu-lírico diante do aprisionamento a que está submetido o espírito humano, preso que está ao corpo. B. Neste item, você pode salientar que, em todo o poema, o autor procurou destacar a limitação e a rigidez a que a alma humana está condenada. Ao longo da poesia, o eu-lírico retoma a ideia já expressa no título da poesia, denotando ser angustiante a condição humana. Pode-se depreender que o “cárcere das almas” seria o próprio corpo, a nossa materialidade. Frente a esse materialismo a que nossa condição humana está condicionada, a alma humana parece não atingir a almejada plenitude, a sublimação tão latente nos poemas simbolistas. Toda a terceira estrofe configura-se como uma espécie de lamento face ao estado de abandono em que se encontram as almas “nas prisões colossais” (2° verso do 1° terceto). A resposta esperada para a questão é o par de versos “Ó almas presas, mudas e funéreas / Nas prisões colossais e abandonadas.”.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 2:

A primeira e a terceira estrofes do poema são iniciadas por uma interjeição (Ah!/Ó), ou seja, por uma palavra invariável que é utilizada para exprimir diferentes emoções, apelo ou estado de espírito. Sobre o valor expressivo dessas interjeições,
pode-se afirmar que:

a) A interjeição “Ah!” exprime uma invocação, e a interjeição “Ó” exprime a alegria do eu -lírico.
b) A interjeição “Ah!” exprime a alegria do eu-lírico, e a interjeição “Ó” exprime espanto/admiração.
c) A interjeição “Ah!” exprime espanto/admiração, e a interjeição “Ó” exprime uma invocação.
d) A interjeição “Ah!” exprime a alegria do eu-lírico, e a interjeição “Ó” exprime uma invocação.

Habilidade trabalhada:

Identificar o valor expressivo das interjeições e demais sinais de pontuação.

Resposta comentada:

Antes de iniciar a correção desta questão, você pode retomar, junto aos alunos, o conceito de interjeição. Primeiramente, pode ser feita a observação de que a interjeição é uma palavra que não sofre variação em gênero ou número, ou seja, não admite a transposição masculino/feminino, assim como singular/plural. Por isso, é classificada como uma palavra invariável.

Na oralidade, as interjeições se fazem constantemente presentes nas conversas informais. Nos gêneros textuais escritos, as interjeições são bastante recorrentes nas tiras cômicas, nas histórias em quadrinhos, nos chats e e-mails informais. Você pode chamar a atenção do aluno para o uso que ele possivelmente faz das interjeições mais comuns em seu cotidiano: Ah!; Hum!; Ó!; Psiu!; Puxa!; Meu Deus! etc. Quanto ao aspecto semântico, é importante que o aluno demonstre compreender que o significado de cada interjeição está relacionado ao modo como é proferida e que, para tanto, o contexto torna-se primordial. É fundamental o aluno perceber o contexto da fala ou da escrita como elemento determinante do sentido tomado pela interjeição. A questão exige que o aluno demonstre perceber o valor expressivo das interjeições Ah! (primeira estrofe) e Ó (terceira estrofe). A alternativa A não serve como resposta para a questão, pois a interjeição Ah! não denota uma invocação, mas sim, espanto, admiração. Já a interjeição Ó denota um chamamento, uma invocação e não a alegria do eu-lírico. Caso o aluno marque essa opção, você pode reforçar a ideia de que o eu-lírico do poema em momento algum da poesia demonstra o sentimento de alegria. Esse mesmo comentário pode ser feito com relação às alternativas B e D. O aluno, então, será levado a perceber que a alternativa correta é a letra C, pois a interjeição Ah! denota o sentimento de espanto do eu-lírico diante do fato de as almas estarem presas no cárcere e a interjeição Ó representa uma invocação a essas almas.

TEXTO GERADOR 2

O poema Violões que choram, do poeta Cruz e Sousa, é uma referência no estudo do Simbolismo, principalmente quando a intenção é focalizar a musicalidade, uma das principais características dessa estética. O poema foi escolhido como Texto Gerador não só pela presença recorrente de recursos sonoros comuns nos poemas simbolistas (assonância, aliterações, rimas), como também pela riqueza de imagens sugestivas.

VIOLÕES QUE CHORAM

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
noites de solidão, noites remotas
que nos azuis das Fantasias bordo,
vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua
anseio dos momentos mais saudosos,
quando lá choram na deserta rua
as cordas vivas dos violões chorosos.
Quando os sons dos violões vão soluçando,
quando os sons dos violões nas cordas gemem,
e vão dilacerando e deliciando,
rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,
dedos nervosos e ágeis que percorrem
cordas e um mundo de dolências geram,
gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,
mágoas amargas e melancolias,
no sussurro monótono das águas,
noturnamente, entre ramagens frias.

Constelando: “elevando aos céus” (imaginando).
Dilacerando: afligindo muito.
Dolências: Aflições, lágrimas, em estado doloroso, plangentes.
Ignotas: desconhecidas, ignoradas.
Laceram: se afligem muito.
Monótono: em um só tom.
Murmurejantes: rumorejantes (sussurrar),

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 3:

A musicalidade é uma das características mais destacadas da estética simbolista. Na construção da musicalidade, diferentes recursos sonoros são empregados: a aliteração (repetição de sons consonantais), a assonância (repetição de sons vocálicos), a métrica e a rima. Desse modo:

a) Identifique um verso em que seja marcante a figura sonora aliteração, informe
qual o som que marca essa aliteração e o que essa repetição do som pode sugerir.

b) Analise a 7ª estrofe e identifique quais são os sons vocálicos que se repetem de
forma harmônica em cada verso.

c) Identifique o esquema de rima das quatro primeiras estrofes do poema e diga se
são alternadas, intercaladas, emparelhadas ou mistas.

Habilidade trabalhada:

Analisar textos simbolistas, identificando recursos ligados à musicalidade.

Resposta comentada:

Quanto à musicalidade dos poemas simbolistas, é importante os alunos compreenderem que a poesia, em si, não apresenta fundo musical, ou seja, não foi musicada pelo poeta, mas que essa musicalidade é um elemento intrínseco à poesia, alcançada por meio do emprego de aliterações, assonâncias, rimas, repetições oportunas de fonemas etc. Essa questão, dividida em três itens, está dedicada aos três principais recursos usados pelos poetas com o objetivo de conferir tal efeito sonoro.

A. Você pode iniciar a correção deste item retomando a conceituação da aliteração como sendo uma figura de som que consiste na repetição de sons consonantais idênticos ou semelhantes em uma frase, um verso ou versos próximos, sobretudo nas sílabas tônicas. Espera-se que os alunos não tenham dificuldade em localizar, nessa poesia, um verso marcado pela aliteração, tendo em vista que a mesma nos oferece claras possibilidades na última estrofe.

Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

O aluno poderá apontar dois diferentes sons responsáveis por configurar as aliterações nesses versos: o fonema /v/ (vozes, veladas, veludosas, vozes, volúpias, etc.) e o fonema /l/ (veladas, veludosas, volúpias, violões). Além de identificar a aliteração, espera-se que os alunos percebam que um efeito de sentido possível criado por esse recurso é a sugestão do dedilhar de um violão.

B. Neste item, espera-se que o aluno consiga perceber, na 7ª estrofe do poema, a repetição de sons vocálicos nas sílabas tônicas dos versos. Relembre com eles que essa repetição recebe o nome de assonância, uma figura de linguagem (de som) bastante recorrente nos poemas simbolistas. Com a estrofe no quadro, você pode solicitar que os alunos digam a sílaba tônica de cada palavra constante dos versos, para, em seguida, verificarem quais vogais se repetem. Com isso, os alunos chegarão mais facilmente à resposta. Vejamos:

Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas

As vogais que constituem as assonâncias dessa estrofe são: o (presente nas palavras “vozes”, “velozes” e “vórtices”) e a (presente nas palavras “veladas” e “vulcanizadas”). Você pode mostrar que essas assonâncias contribuem, também,
para a formação das rimas. Relembre com os alunos que contamos as sílabas poéticas até a última sílaba tônica de cada verso e que, portanto, tais sílabas estão marcadas pela assonância, o que contribui para a melodia do verso.

C. Embora os alunos já tenham revisto o esquema de rima no 1º ciclo deste bimestre, não é demais recordar que a terminação de cada verso pode corresponder a uma letra (A, B, C etc.). Com essa questão, espera-se não somente que os alunos façam o esquema de rimas adequadamente, mas também percebam que a rima, na poesia, é um dos recursos que contribuem para a construção da musicalidade. Essa percepção é fundamental, pois demarca certa fronteira entre os poetas parnasianos e simbolistas: os primeiros cultivavam as rimas tendo em vista o rigor e perfeição da forma (a arte pela arte); os segundos, embora também possuam preocupação com a forma, não tornam essa preocupação o objetivo maior do fazer poético. O aluno deve perceber, ainda, após montar o esquema, que as rimas apresentadas são alternadas. Caso os alunos apresentem dificuldades em responder a questão, é possível relembrar os tipos de rimas existentes: alternadas emparelhadas (AABB) ou mistas (ABCD). (ABAB), intercaladas (ABBA), Ah! plangentes violões dormentes, mornos, soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, bocas murmurejantes de lamento.
(A)
(B)
(A)
(B)

Noites de além, remotas, que eu recordo, (C)
noites de solidão, noites remotas (D)
que nos azuis das Fantasias bordo, (C)
vou constelando de visões ignotas. (D)
Sutis palpitações à luz da lua (E)
anseio dos momentos mais saudosos, (F)
quando lá choram na deserta rua (E)
as cordas vivas dos violões chorosos. (F)
Quando os sons dos violões vão soluçando, (G)
quando os sons dos violões nas cordas gemem, (H)
e vão dilacerando e deliciando, (G)
rasgando as almas que nas sombras tremem. (H)

TEXTO GERADOR 3

A canção “Ode aos ratos” integra o CD Carioca, lançado por Chico Buarque no ano de 2006. A canção foi escolhida por ser de autoria de um dos maiores compositores da Música Popular Brasileira, por ser contemporânea e por conter claros exemplos de recursos ligados à musicalidade, como a aliteração e a assonância.

ODE AOS RATOS

Rato de rua Arriba: para cima.
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Estuporador: Ser que se torna desprezível, que se zanga,
que fica furioso.
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago Frenética: agitada.
Atrás do seu quinhão
Irrequieta: agitada.
(...)
Libidinoso: libertino (que não se prende às convenções

Saqueador da metrópole
Tenaz roedor
De toda esperança
Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante
Filho de Deus, meu irmão

Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato

sociais, especialmente, em relação ao comportamento
sexual).
Lúbrico: lascivo (libidinoso).
Ode: Composição poética de caráter lírico.
Proliferação: reprodução.
Quinhão: cota.
Tenaz: obstinado (teimoso).
Transeunte: Indivíduo que passa.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 4:

A poesia é uma composição literária escrita em versos. Embora não seja concebida com melodia, conforme a canção, é possível notar que muitos poemas apresentam recursos sonoros que conseguem sugerir musicalidade aos versos. A canção, diferentemente da poesia, é constituída por letra e melodia: ela é feita para ser cantada. A letra e a melodia formam um todo que confere harmonia à composição da canção.
Na canção “Ode aos ratos”, de Chico Buarque, além de haver uma melodia (intrínseca a toda canção), há a presença de recursos sonoros – também facilmente encontrados nos poemas simbolistas – que contribuem para reforçar a musicalidade dos versos. Considerando essas características, destaque dois recursos sonoros empregados pelo compositor nessa canção.

Habilidade trabalhada:

Identificar os recursos expressivos do gênero textual canção, reconhecendo sua relação com a poesia e a música.

Resposta comentada:

Você pode, inicialmente, fazer a leitura compartilhada com os alunos e, em seguida, colocar a música1 para que todos ouçam e possam observar atentamente a melodia e possíveis recursos sonoros da canção.

Um dos aspectos a ser observado pelos alunos é a marcante aliteração ocasionada pela recorrente repetição do fonema /R/. Você pode mostrar aos alunos que, presente já no título da canção, o fonema /R/, inicial na palavra “rato”, é retomado em um grande número de versos e, normalmente, figura em palavras que são usadas para designar ações desse ser ou características por ele apresentadas. Um efeito de sentido

Disponível em: //letras.mus.br/chico-buarque/129836/. possível criado pela constante aliteração do /R/ é a agitação e fremência características da vida nos centros urbanos, onde habitariam o animal rato e homem-rato. Outro recurso a ser apontado pelos alunos é a assonância. Na primeira estrofe da canção, observa-se a repetição da vogal “u”, na sílaba tônica de três diferentes vocábulos (“rua”, “criatura” e “lúbrico”). Na última estrofe, se faz marcante a repetição das vogais “a” e “o”, que é reforçada pela aliteração do “r” e da própria repetição das palavras “rato” e “rói”.

Caso os alunos apontem a rima como resposta, é importante verificar em quais versos se basearam. É necessário frisar que a rima, apesar de estar presente na canção de Chico Buarque, não se enquadra em um padrão fixo como se observa nos poemas parnasianos e em boa parte dos poemas simbolistas. Alguns pares de versos podem ser apontados pelos alunos para marcar a presença desse recurso na referida música: Rato de rua /Irrequieta criatura; Tribo em frenética proliferação/Atrás do seu quinhão; Estuporador da ilusão/Filho de Deus, meu irmão.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 5:

A ambiguidade consiste na duplicidade de sentidos que pode surgir no emprego de um vocábulo, em uma frase ou na totalidade de um texto. Quando não-intencional, a ambiguidade é vista como um problema do texto; entretanto, quando utilizada de modo intencional, ela representa um importante recurso expressivo e se faz presente em diferentes gêneros textuais: tiras cômicas, propagandas, poesias, canções.

O título da canção, “Ode aos ratos” sugere que a letra poderá ser entendida como uma exaltação (“Ode”) ao ser “rato”. Tendo em vista esse comentário e o fragmento acima, responda:

a) Na primeira estrofe de “Ode aos ratos”, que informações ajudam a descrever o animal rato?

b) Na segunda estrofe, há um par de versos em que o eu-lírico se identifica com esse ser que descreve. Destaque-o.

c) Considerando as características e os comportamentos apontados sobre o “ser” rato, pode-se dizer que a letra apresenta ambiguidade? Justifique sua resposta.

Habilidade trabalhada:

Reconhecer situações de ambiguidade e ironia que decorram do ponto de vista do autor ou eu-lírico.

Resposta Comentada:

Dividida em três itens, essa questão tem por objetivo principal levar os alunos a perceberem, gradativamente, a presença da ambiguidade na canção de Chico Buarque. Busca, também, tornar claro o fato de a ambiguidade constituir-se como um recurso expressivo quando é empregada de forma intencional por um compositor ou poeta.

A. Neste item introdutório, os alunos devem ser capazes de perceber que o início da letra da canção contém uma descrição do ser rato. Para tanto, o aluno pode apontar como possibilidades de resposta diferentes expressões: Irrequieta criatura, Tribo em frenética proliferação, Boca de estômago, Tenaz roedor.

B. Aqui, espera-se que o aluno perceba que o único momento no qual eu-lírico aparece claramente na canção é quando lança mão das expressões Ó meu semelhante / Filho de Deus, meu irmão. Esses são os versos que mostram não somente a presença do eu-lírico, mas também a sua identificação com o ser rato. Você pode ressaltar, ainda, que a expressão “Ó meu semelhante” pode ser entendida como uma forma de lamento pelo que sofre esse semelhante ou como uma espécie de exaltação à sua sobrevivência, apesar das mazelas.

C. Espera-se que o aluno consiga notar que o compositor escolhe o ser rato para estabelecer comparações com os seres humanos. Você pode mostrar, por exemplo, que as palavras rua, criatura, profanador, saqueador, estuporador, ao mesmo tempo em que fazem parte do campo semântico definidor do rato (animal), ajudam a delinear grandes problemáticas da condição humana: a mentira, a desonra, o roubo, a fome etc. É importante os alunos compreenderem que a forma como a letra da canção está organizada não torna claro se está sendo feita uma referência ao animal rato ou ao ser humano que, dada sua condição muitas vezes miserável, pode ser percebido como um rato.

TEXTO GERADOR 4


Alphonsus de Guimaraens é um grande representante do Simbolismo. Sua poesia é marcada pelo tema da morte e pela musicalidade, obtida mediante os recursos da aliteração e da assonância. No poema a seguir, o leitor pode visualizar um texto com metáforas, substantivos, adjetivos e locuções adjetivas, transmitindo um conflito existencial, expresso pelo mistério fúnebre, pela dor de existir e pelo ritmo das fases da vida.

AEIOU

Manhã de primavera. Quem não pensa Descamba: Declina.
Em doce amor, e quem não amará?
Fado: destino.
Começa a vida. A luz do céu é imensa...
A adolescência é toda sonhos.
A. Lutulenta: lamacenta.
O luar erra nas almas. Continua
Marulha: agita-se (o mar), formando ondas que,
nesse texto, se referem ao mar de lágrimas.
O mesmo sonho e oiro, a mesma fé.
Olhos que vemos sob a luz da lua...
Ocaso: desaparecimento do sol do horizonte;
A mocidade é toda lírios. E. ocidente, poente; fim; morte.
Oiro: ouro.
Descamba o sol nas púrpuras do ocaso.
As rosas morrem. Como é triste aqui!
O fado incerto, os vendavais do acaso...
Marulha o pranto pelas faces. I.
A noite tomba. O outono chega. As flores Penderam murchas. Tudo, tudo é pó.
Não mais beijos de amor, não mais amores...
Ó sons de sinos a finados! O.
Abre-se a cova. Lutulenta e lenta,
A morte vem. Consoladora és tu!
Sudários rotos na mansão poeirenta...
Crânios e tíbias de defunto. U.
Alphonsus de Guimaraens

Púrpuras: vocabulário relativo à cor vermelha.
Rotos: que se romperam; rasgados; maltrapilhos.
Sudários: espécie de lençol para envolver cadáveres.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 6:
O poema “AEIOU”, de Alphonsus de Guimaraens, possui uma construção
pautada nas vogais, representando o estado de espírito do eu-lírico em cada estrofe. Há
uma sequência, que vai desde um ânimo otimista até uma sensação pessimista, realçada
por figuras de linguagem, como a metáfora e a metonímia.

A. No verso “A mocidade é toda lírios”, a construção de imagem foi possibilitada
por qual figura de linguagem?

(A) Comparação, pois ocorre uma comparação entre mocidade e lírios.
(B) Metonímia, pois o enunciado sugere a troca de mocidade por lírios.
(C) Metáfora, pois a alegria da mocidade é associada à beleza dos lírios.
(D) Sinestesia, pois há uma mistura de sensações entre mocidade e lírios.

B. Explique como essa figura de linguagem atua na construção de uma imagem sugestiva no poema.

Habilidade trabalhada:

Reconhecer o emprego de figuras de linguagem na construção de imagens sugestivas.

Resposta comentada:

A. A fim de esclarecer a primeira parte da questão, o professor pode explicar cada figura de linguagem do enunciado: metáfora, metonímia, comparação e sinestesia, usando exemplos do cotidiano ou literário. A comparação é baseada numa associação em que a partícula “como” é expressa explicitamente. Para aplicar essa noção em sala de aula, é sugerido que o professor transforme a oração “A mocidade é toda lírios” em “A mocidade é como lírios”, mostrando que o acréscimo do “como” estabelece uma comparação nitidamente definida. A sinestesia é baseada na mistura entre os sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar), como ocorre em “som colorido”. Nesse exemplo, são mescladas audição e visão. A metonímia é uma figura que faz a troca de uma palavra por outra, havendo possibilidade de relação parte/todo, autor/obra, singular/plural, abstrato/concreto, matéria/objeto e continente/conteúdo, como, por exemplo, “Ler Alphonsus de Guimaraens é importante” (as obras do autor, relação autor/obra). Já a metáfora, um recurso bastante usado no cotidiano; consiste em uma comparação entre algo concreto do cotidiano e um abstrato, sem o uso da partícula “como” ou qualquer outro conectivo. Essa figura é observada na expressão “A mocidade é toda lírios”, na qual há uma comparação implícita entre a juventude e a imagem da flor. Logo, a alternativa C é a resposta correta. B. Refletindo sobre a segunda parte da questão, é recomendável ao professor a leitura de estrofe por estrofe, discutindo com os alunos sobre as alegrias da
adolescência (primeira estrofe) e da mocidade (segunda estrofe) até chegar às tristezas após o pôr do sol (três últimas estrofes), exemplificando da seguinte maneira:

GRADAÇÃO NO POEMA A E I O U, DE ALPHONSUS DE GUIMARAENS

1ª estrofe: A: manhã, primavera, amor, vida, adolescência.
2ª estrofe: E: fé.
3ª estrofe: I: triste, incerto, vendavais.
4ª estrofe: O: noite, tomba, outono, flores, pó, amores.
5ª estrofe: U: lutulenta, defunto.

Nesse esquema, o professor pode mostrar o conteúdo metafórico da gradação, partindo de palavras com sentidos mais positivos em relação à vida: “manhã”, “primavera”, “amor” e “fé”. Depois, o professor pode mostrar as palavras que remetem ao aspecto negativo da morte: “triste”, “incerto”, “pó”, “lutulenta” e “defunto”.
Baseando-se nisso, o professor pode explicar a metáfora “A mocidade é toda lírios” em termos da fase positiva da segunda estrofe, motivada pela imagem de beleza da juventude, pelas flores belas e aromáticas dos lírios e pela fé. Para aprofundar essa discussão, o professor pode comentar que, na época da mocidade, é comum ter esperança e fé, comparadas pelo eu-lírico ao sonho e ao ouro, no verso “O mesmo sonho e oiro, a mesma fé”.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA- QUESTÃO 7:

Os termos acessórios da oração são termos que, embora chamados de acessórios, podem especificar um substantivo, um verbo, um adjetivo ou um advérbio. Há três categorias: i) adjunto adnominal, usado para delimitar ou especificar o significado de um substantivo; ii) adjunto adverbial, usado para transmitir uma relação de circunstância do fato expresso pelo verbo; iii) e aposto, expressão que pode explicar ou especificar o significado de uma palavra no texto. A partir disso, responda às questões:

a) Sobre o verso “A luz do céu é imensa...” (primeira estrofe), explique o termo acessório “do céu” e sua função na expressão.
b) O verso “Sudários rotos na mansão poeirenta”, que aparece ao final do poema AEIOU, de Alphonsus de Guimarães, ajuda a compor, com seus termos acessórios, o clima de morte, decadência e degradação desta última estrofe. Leia
a estrofe completa e explique como esse efeito é obtido a partir dos adjuntos adnominais presentes no verso indicado.

Abre-se a cova. Lutulenta e lenta,
A morte vem. Consoladora és tu!
Sudários rotos na mansão poeirenta...
Crânios e tíbias de defunto. U.
Habilidade trabalhada:

Identificar os termos acessórios da oração.

Resposta comentada:

Ao abordar essa questão, é recomendável ao professor explicar os termos acessórios da oração, usando exemplos do cotidiano e da Literatura para que os alunos compreendam a função do adjunto adverbial, aposto e adjunto adnominal.

No caso do adjunto adverbial, é necessário explicar sua relação com o verbo e mencionar algumas circunstâncias envolvidas como probabilidade, intensidade e tempo, perceptível em exemplos cotidianos, como em “Provavelmente, eu vá estudar muito hoje”.

Ao comentar o aposto, o professor pode explicar que o termo pode vir entre vírgulas e resumir trechos anteriores, como em “Glória, poder, dinheiro, tudo passa”. Além disso, também poderá explicar o papel discursivo do termo, que ajuda a precisar o sentido do substantivo que o antecede.

Ao tratar do adjunto adnominal, é interessante apresentar sua função de delimitação do significado de um substantivo e de representação por meio de um adjetivo, de uma locução adjetiva, de um artigo, de pronome adjetivo, de numeral e de
oração adjetiva.

A) No caso do termo destacado na questão A, o vocábulo “luz” tem seu significado delimitado pela locução adjetiva “do céu”, diretamente relacionado à fase positiva da adolescência, repleta de sonhos e de esperanças.

O professor pode, ainda, destacar que o mesmo verso “A luz do céu é imensa...” possui outros adjuntos adnominais referentes ao substantivo “luz”: o artigo definido feminino “a” e o adjetivo “imensa”.

B) Com relação ao item B, é interessante destacar a diferença que faz o autor dizer sudário e sudário roto, mansão e mansão poeirenta. Lembre o aluno de que o que está sendo apresentado é uma cova, como indicado no primeiro verso da estrofe.

Sudário, como o aluno já sabe, era o tecido que, antigamente, envolvia os defuntos para serem sepultados. O poeta, ao adjetivá-lo como roto, destaca a deterioração em que um dia nos e encontraremos: não só é uma vestimenta de cadáver, como está rota. Esse sudário está posto em uma “mansão poeirenta”. Aqui, o adjunto provoca uma transformação do sentido do vocábulo “mansão”, o que também é propiciado pelo contexto. O adjunto adnominal ajuda a construir uma metáfora para cova. Mansão, que remeteria inicialmente para um lugar de requinte e luxo, ao receber o adjetivo poeirenta, é como um lugar desagradável, insalubre. Assim, os termos acessórios são aqui fundamentais para que a gradação (já estudada) do poema se concretize, mostrando o destino da vida humana: repousar os ossos em mortalha que se tornará rota, “habitando” um lugar poeirento.

ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL

QUESTÃO 8:

A paráfrase é um tipo de texto em que o autor reafirma, em palavras diferentes, o mesmo sentido de uma obra. Esse recurso textual pode ser construído a partir da afirmação geral da ideia de determinada obra ou como esclarecimento de uma passagem difícil. Geralmente, a paráfrase se aproxima do tamanho do texto original.

A partir do poema Cavador de infinito, de Cruz e Souza, produza uma paráfrase, lembrando que é necessário manter a ideia central do poema parafraseado.

Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!

Para auxiliá-lo nessa tarefa, siga as seguintes dicas:
1º -Ao fazer a leitura do poema de Cruz e Souza, sublinhe as palavras com significado desconhecido por você;
2º -Consulte o dicionário ou pergunte ao professor os significados dos termos desconhecidos por você no poema. Então, tente substituí-los pelos seus sinônimos e leia novamente o poema;
3º -Após a leitura do poema, reflita por um instante sobre sua temática central e explore essa ideia na produção do seu texto;
4º -Observe as rimas, a quantidade de versos, as estrofes, o tamanho e a organização sintática das frases para tentar aproximar as formas do texto original e do texto parafraseado;
5º -Para que você tenha sucesso nessa atividade, saiba: é interessante que o leitor, ao ler a sua paráfrase, lembre-se do texto original, caso o conheça.

Habilidade trabalhada:

Produzir paráfrases a partir dos poemas estudados.

Comentário:

Após a apresentação da questão de produção textual, é aconselhável orientar os alunos para a preocupação da forma e do conteúdo no poema parafraseado. No plano da forma, vale destacar o emprego de sinônimos, a mudança de ordem dos termos no período, de modo a desfazer os hipérbatos originais, e a sonoridade dos vocábulos como recursos interessantes para a manutenção do texto base, ou seja, o texto parafraseado. No plano do conteúdo, a preocupação é ainda maior, pois a principal característica da paráfrase é a permanência da ideia principal do texto motivador. Por isso, é necessário que você destaque uma estrofe do poema e inicie o passo a passo, conforme as dicas destinadas ao aluno na questão. Após essa breve demonstração, é interessante que você compare sua produção a fim de estabelecer coerência com o texto
original. Para ilustrar esse exercício, segue o seguinte quadro, que pode ser construído juntamente com os alunos em sala de aula.

Na paráfrase, não há necessidade de o texto secundário ter as rimas idênticas ao texto primário. O importante é que a adaptação/ reescrita/ renovação promovida pela paráfrase permita a percepção do texto original através da intertextualidade.

TEXTO GERADOR 5
O próximo Texto Gerador, “Pela internet”, é uma canção do músico Gilberto Gil, grande compositor da MPB e conhecido por explorar criativamente as palavras através de combinações sonoras e sugestivas. A partir deste texto, podem ser
trabalhadas habilidades do eixo Leitura e desenvolvida mais uma proposta de Produção Textual.

PELA INTERNET
(Gilberto Gil)

Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Um barco que veleje
Que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu velho orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipé
Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut de acessar
O chefe da Mac Milícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus para atacar os programas no Japão
Eu quero entrar na rede para contatar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar...

Web: Sistema de hipermídia disponível na Internet, com documentos e outros objetos localizados em pontos diversos da rede e vinculados entre si; o conjunto de informações assim disponíveis.
Home-page: palavra inglesa na união entre home (casa) e page (página), significando a
página de entrada na Internet.
Gigabyte (s): palavra inglesa na união entre giga e byte, significando a unidade de
medida de informação, equivalente a 1024 megabytes.
Infomaré: neologismo que apresenta a união entre informática e maré.
E-mail: correio eletrônico.
Hot-link: termo utilizado para designar um link direto de um arquivo (imagem, vídeo,
som ou qualquer outro arquivo) de um site para outro.
Site: conjunto de documentos inter-relacionados, dispostos na Web em um endereço
específico de acesso.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 9:
Assim como a poesia simbolista, a canção “Pela Internet” explora recursos sonoros, como aliterações e assonâncias, e constrói imagens sugestivas por meio de figuras de linguagem. A partir da letra de Gilberto Gil, destaque exemplos desses
recursos e das imagens construídas.

Habilidade trabalhada:

Identificar os recursos expressivos do gênero textual canção, reconhecendo sua relação com a poesia e a música.

Resposta Comentada:

Para auxiliar o aluno na resposta dessa questão, é importante explicar algumas figuras de linguagem como a aliteração, a assonância, a metáfora que, presentes na canção, também são abundantes nos poemas simbolistas. Para isso, pode-se apresentar um quadro que sintetize os conceitos, como o seguinte:

FIGURAS DE LINGUAGEM
Nome Conceito Exemplo

Metáfora Comparação implícita que estabelece uma relação entre dois termos, sugerindo semelhanças. “Teus olhos são duas pérolas” (a imagem do olhar da pessoa está sendo associada ao brilho das pérolas).
Aliteração Repetição expressiva de um fonema consonantal. “Os perfumes, as cores e os sons se correspondem” (verso de
“Correspondências”, de Clarles Baudelaire, usando a repetição do “s”).
Assonância Repetição de sons vocálicos idênticos ou aproximados. “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras” (verso de “Antífona”, de Cruz e Souza, usando a repetição do “a”).
Anáfora Repetição de um termo no início de cada verso ou frase. Tudo era silencioso, tudo nebuloso, tudo confuso (repetição do pronome “tudo”).
Inversão ou repetição de termos, com ou sem alterações.
Quiasmo “... tinha uma pedra no meio do caminho,/ no meio do caminho tinha uma pedra (verso do poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade).
Epizeuxe ou Repetição de vocábulo ou -Linda, linda, linda! (A palavra é Reiteração expressão repetida três vezes nesse
exemplo).

Depois de expor alguns recursos estilísticos, usando exemplos do cotidiano e de versos de autores consagrados, o professor pode esclarecer as figuras de linguagem que aparecem na canção “Pela Internet”, relacionando a preocupação do autor com a forma e expressão ao fazer poético.

Primeiramente, o professor pode tratar da aliteração por meio do estudo da repetição do fonema /R/ e /r/ no texto. O som de um r “mais forte” pode ser perceptível a partir da leitura de vocábulos como “barco”, “informar”, “porto”. Já o som de um r “mais fraco” pode ser compreendido a partir de palavras como “quero”, “lares” e “bares”. Ainda é possível observar outros casos, como a repetição do /m/ em “O chefe da Mac Milícia de Milão”. Por sua vez, a assonância pode ser entendida a partir da repetição do fonema /i/ na leitura de palavras como “informar”, “disquete” e “micro”,
ou ainda, do fonema /e/ em “tietes de Connecticut”.

Em relação ao aspecto semântico, o professor pode expor o neologismo “infomar é”, do verso “que aproveite a vazante da infomaré”, criado a partir da união entre as ideias de informática e do mar. Neste caso, a vastidão do mar é associada à
infinidade de informações disponíveis pela internet. A maré, portanto, corresponde metaforicamente a uma grande carga de dados disponíveis através dos links da Internet. Outros recursos relevantes são a reiteração enfática, a anáfora e o quiasmo, também observados na letra da música “Pela Internet”. A reiteração enfática ocorre na repetição das expressões “Um barco que veleje”e“Um grupo de tietes de Connecticut”. A anáfora pode ser demonstrada por meio da repetição do termo “que” em “Que veleje nesse informar/ Que aproveite a vazante da infomaré/ Que leve um oriki do meu velho
orixá” etc. Já o quiasmo pode ser visto no cruzamento dos versos em “Um grupo de tietes de Connecticut/ De Connecticut de acessar” e em “Um barco que veleje/ Que veleje nesse informar”.

Além disso, vale destacar para os alunos o uso de trocadilhos, como “informar” e “infomaré”; “Connecticut”, nome de um estado norte-americano, e “conecte”, forma do verbo conectar. Esses casos deixam clara a exploração da sonoridade das palavras na criação de novos sentidos e imagens sugestivas.

ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL


QUESTÃO 10:

A poesia do Simbolismo tinha na exploração da sonoridade das palavras um dos seus principais recursos expressivos. Além disso, os poetas simbolistas costumavam criar imagens sugestivas, para o que contribuíam figuras de linguagem com a metáfora, a comparação e a sinestesia. De igual modo, o gênero canção também se utiliza de tais recursos e sugere imagens, como ficou claro pelo exame das letras de “Ode aos ratos” e “Pela internet”, canções presentes neste Roteiro de Atividades.

A partir do estudo deste ciclo, você poderá desenvolver um texto comparando um poema simbolista e uma canção contemporânea. Para ajudá-lo no desenvolvimento do texto, considere as seguintes dicas:

1) Destaque os recursos sonoros de cada texto, ou seja, observe as aliterações, assonâncias, anáforas etc.;
2) Em seguida, busque por figuras de linguagem responsáveis pela construção de imagens, como metáforas e sinestesias;
3) Reflita sobre o efeito de cada recurso e de cada figura de linguagem nos textos;
4) Relacione, então, suas observações através de um texto comparativo;
5) Em seu texto, não se esqueça de destacar como recursos semelhantes podem ser explorados com rendimentos tão variados em épocas e gêneros tão distintos.

Se precisar de ajuda para estruturar seu texto, peça ao seu professor. Agora, mãos à obra!

Habilidade trabalhada: Estabelecer comparações entre poemas simbolistas do século XIX e letras de canções
contemporâneas.

Comentário:

No desenvolvimento dessa questão, o mais importante é que os alunos observem a presença dos recursos expressivos nos poemas e canções escolhidas para análise. Essa seleção pode ser feita pelo próprio professor que, se preferir, pode aproveitar os poemas simbolistas e canções presentes neste material. O ideal, porém, é auxiliar os alunos na escolha de outros textos. Para isso, é possível apresentar à turma algumas sugestões. Com relação às canções, por exemplo, ótimas alternativas são encontradas entre as composições de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lenine, Arnaldo Antunes, Zeca
Baleiro e Chico Buarque.

Apesar de tantas opções, os alunos ainda podem ter dificuldade no desenvolvimento da atividade comparativa devido ao aspecto temático. É compreensível que, ao tentar relacionar textos de gêneros e épocas tão diferentes, eles busquem,
mesmo sem perceber, semelhanças temáticas. Contudo, vale destacar que tal aproximação, neste caso, seria bastante difícil. Enquanto a poesia simbolista era marcada pela sugestão e pelo misticismo, a canção contemporânea costuma falar
abertamente sobre o amor. Além disso, nem de longe, essa relação é a mais relevante para consolidar o aprendizado a respeito dos recursos expressivos e das imagens sugestivas estudadas neste ciclo. Vale, portanto, alertá-los para que não percam o foco. É importante chamar a atenção da turma para a necessidade de comentar os efeitos dos recursos observados nos textos. Além de reconhecê-los, é fundamental que os alunos falem sobre o sentido de cada recurso sonoro ou figura de linguagem e avaliem a contribuição do efeito gerado na interpretação global do poema e da canção.